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Última Paragem

O blog do bicho do mato

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Última Paragem

30
Jan23

Zona de desconforto

Maria J. Lourinho

Entre Setembro e Outubro do ano passado, acompanhei no jornal Público um caso de plágio do jornalista Vítor Belanciano.

Este, que escrevia artigos muito apreciados, foi acusado, e com verdade, por uma leitora, de plagiar um artigo do jornal El País, publicado uns meses antes. (Veio depois a saber-se que havia antecedentes). A leitora escreveu, denunciando o plágio, ao próprio jornalista, ao director do jornal e ao provedor do leitor.

Todos meteram os pés pelas mãos, empurrando de uns para outros e até desvalorizando o assunto. Felizmente a leitora não era mole e nunca largou “o osso”. Talvez eu seja preconceituosa, mas creio que , se o denunciante fosse um homem, haveria mais agilidade e lisura no tratamento do assunto.

Finalmente, e para abreviar, o jornalista saiu do jornal, despedindo-se dos leitores com um artigo dúbio, e o provedor também foi substituído um tempinho depois. Se assim não fosse, a credibilidade do jornal caía no esgoto.

Quem lê livros e jornais, estudou e foi avaliado, não pode deixar de ficar muito chocado com os casos de plágio que mancham inapelavelmente o nome de qualquer escriba que o faça. Plágio é um roubo como qualquer outro, só que da propriedade intelectual.

Sei que toda a gente erra, toda a gente tem deslizes aqui ou ali, uns mais graves, outros mais ligeiros. Antigamente, situações destas causavam vergonha e o prevaricador saía da circulação por um bom tempo, fazia um período de nojo a que se sentia obrigado.

Ora, o que vejo hoje? Não sei se todos fazem o mesmo, mas Vítor Belanciano passeia pelo país, fotografa-se, publica-se, e (assim) publicita-se no Instagram.

Encontrei ontem, nesta rede social, uma sua fotografia, em que nos olha de frente, descontraído, tranquilo, respirando bem estar.

Enfrenta a câmara sem disfarce, olha de frente para mim como quem diz: olha lá, ó moralista de pacotilha - estou aqui, gamos uns textos e pensamentos aos meus colegas, sou um bocado aldrabão, mas não me envergonho nem me arrependo.

Não faço mais do que viver a vida como ela é no século XXI. Sou apenas moderno.

Finda a observação, senti que tinha entrado a pés juntos na minha zona de desconforto e vim-me embora.

24
Set21

Zarapets

Maria J. Lourinho

zara-post.jpg

Ontem, ouvi num telejornal  que no Afeganistão 90% das pessoas passam fome.

Sabemos que por esse mundo fora serão muitos milhões, grande parte dos quais são crianças.

Porém, esta nossa parte do mundo, chamada ocidental e rica, encontra-se num processo rápido de degenerescência. Assim, também ontem, vi no Instagram a foto que reproduzo, da Zara, mais concretamente Zarapets, mais concretamente ainda, fatiotas para cães e gatos.

Insensibilidade social, decadência moral, inversão de valores, infantilização da vida, e estupidez (os animais não precisam de roupa), eis o que, assim de repente, me ocorre para caracterizar esta iniciativa Zara.

Enquanto me lembrar não porei os pezinhos em nenhuma loja da marca.

No ocidente, numa sociedade cada vez mais desigual e desumana, não fazemos filhos que dão trabalho, não queremos imigrantes para nos limpar as latrinas porque são um perigo para a nossa “civilização”, (mas também não queremos limpar as latrinas).

Ao contrário, queremos humanizar os animais e viver numa espécie de disneylândia ridícula, onde não cheire a pobre nem a cocó de criança, mas onde os pets vistam Zara, primeiro, e depois, quiçá Prada.

27
Mai21

Vergonha alheia

Maria J. Lourinho

O programa "Lisboa Protege" tem sido desperdiçado por empresas e comerciantes do concelho, onde a situação epidemiológica tem vindo a agravar-se. Este programa foi criado pela autarquia de Fernando Medina há 30 dias e paga dois testes anticovid por mês a cada funcionário das empresas (mesmo que tenham residência fora do concelho de Lisboa) que viram a sua facturação cair mais de 25% por causa da pandemia. Ao fim deste tempo, apenas 29 vouchers foram emitidos, apurou o PÚBLICO, e apenas um destes foi utilizado. Trata-se de um universo de 5100 empresas que abrange perto de 6 mil trabalhadores. Mais de metade destas empresas são restaurantes, as restantes são comércio.

Público, 26/5/2021

Quase 27% dos dois milhões de SMS enviados ficaram sem resposta. Na semana passada, um terço das pessoas previstas não apareceu nos oito centros de vacinação de Lisboa.

Público 27/5/2021

Assim não vamos lá, obviamente.

09
Mai21

Afinal havia muitas

Maria J. Lourinho

Quando os proprietários agrícolas de Odemira perceberam que iriam perder as colheitas porque os trabalhadores não tinham transporte para ir do Zmar para o trabalho, apareceram muitas casas para eles dentro das propriedades.

Quando ao presidente da Câmra foi perguntado porquê só agora, ele nem sequer chuta para canto, chuta logo para fora do campo.

As cumplicidades são muitas.

A minha vergonha ainda não acabou: aqueles migrantes ganham 3 euros (três euros) à hora.

Uma cambada, estes empresários de aviário.

07
Mai21

Pele escura no Zmar

Maria J. Lourinho

Nos últimos tempos, não me lembro de nada que me tenha enojado tanto no comportamento dos meus compatriotas como o que se está a passar no tal Zmar.

A mesquinhez daquelas pessoas, sem um pingo de compaixão para com os seus semelhantes - famílias que vêm do outro lado do mundo à procura duma vida melhor, que passam por sacrifícios inauditos, que estão a viver em condições degradantes e que NÃO estão infectadas com corona virus - deixam-me, na expressão bem alentejana, "por cima das azinheiras".

Nós somos o tal país de 10 milhões de habitantes que tem mais de 4 milhões de portugueses espalhados pelo mundo mas, mal temos um barraco ao pé do mar logo tememos a proximidade e contaminação, sobretudo se o outro tiver a pele escura.

Um barraco ao pé do mar faz de nós uma espécie de "última e preciosa batata frita do pacote".

Eu sinto tanta vergonha...

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