Confusa com as marquises
Nós, os portugueses urbanos, no que toca à marquise, dividimo-nos em dois grupos de tamanho muito desigual.
Os pobres têm, e gostam, da marquise; os ricos abominam marquises (aqui, sobre pobres e ricos, simplifico, claro)
Um pobre sem marquise, para os outros pobres, é um idiota metido a besta que desperdiça espaço que está a pagar ao banco.
Um rico com marquise, para os outros ricos, é um traidor e um possidónio.
Destes, os mais conhecidos são Cavaco Silva e Cristiano Ronaldo.
Se a marquise do primeiro, aos olhos dos pobres, era apenas inócua e igualitária, a do Cristiano é uma questão de direito inalienável do proprietário que, por esforço e talento, nasceu pobre e ficou rico.
Logo, diz o pobre, não se bole com o nosso menino, tá? Deixe tar a marquise que não incomoda ninguém e vocês têm é inveja dos diamantes na orelha, dos carros, das casas, do rabo postiço da Georgina e da marquise 360°.
Os ricos acham-no um possidónio, mas são condescendentes com o “rapaz” (e condescendência é um sentimento tão bonito...).
Por fim, há um pequeno grupo, gente dada à paz, à meditação e ao gosto por ser diferente, que não acha bem nem mal, antes pelo contrário, mas, caso ache alguma coisa, descobre que a culpa disto é toda dos arquitectos – elitistas, cheios de si e que não pensam a cidade - uns incompetentes.
Euzinha estou confusa, porque ainda não percebi qual deva ser o meu grupo: não sou dada à meditação, não tenho marquise mas reconheço que em dias de vento pode dar jeito, tendo a defender os pobres mas adorava ser rica mesmo que possidónia,
Há situações mesmo lixadas, covenhamos.