Mulheres
Esta é uma história verdadeira em que apenas os nomes foram alterados.
Josefa, Esmeralda, Ilda, Maria e Conceição, todas viveram nos anos de 1940. Mais velhas ou mais novas, a nenhuma foi estranho o rescaldo da Segunda Guerra Mundial e o salazarismo, com o seu cortejo de racionamentos, medos, carências e sacrifícios, num tempo em que, sem qualquer vislumbre de protecçao social, as pessoas estavam entregues a si próprias.
Josefa e Esmeralda eram irmãs, e Conceição era cunhada de Josefa.
A filha mais velha de Josefa, Joana, casou com Xavier, que era filho de Maria e irmão de Ilda.
Quando Xavier adoeceu com tuberculose, o jovem casal teve de deixar uma promissora vida na capital e de regressar às origens.
Doença e desemprego eram, e são ainda, causas maiores de pobreza, humilhação e sofrimento, caso não se tenha uma rede de apoio para amortecer a queda.
A rede física e psicológica deste casal foi formada pelas cinco mulheres inicialmente nomeadas.
Era preciso comprar penicilina, novo e caríssimo fármaco, para salvar Xavier.
Para isso, e sem hesitações, Ilda, a irmã de Xavier, vendeu todo o seu ouro e Maria, mãe de Xavier, vendeu não só o ouro, mas também a máquina de costura, um bem caro e precioso para as mulheres da época, quantas vezes comprado com muitas e sacrificadas prestações.
A mãe de Joana, mandava tudo o que podia para a alimentação e a tia Conceição, dona da casa que o casal arrendava, pagava do seu bolso a renda da casa ao próprio marido, sem que este desconfiasse da tramoia.
Quando Xavier melhorou mas ainda não tinha trabalho, e saía um pouco ao domingo à tarde, muitas vezes a tia Esmeralda, subrepticiamente metia-lhe no bolso uma nota de 20 escudos para as suas necessidades – tabaco, café e jornal, as necessidades mínimas de um homem naquele tempo.
Um verdadeiro complô de mulheres tomou conta do casal e salvou-o, deixando os homens nas suas vidas e na sua ignorância. Ou, pelo menos, elas assim acreditavam.
8 de Março é o Dia Internacional da Mulher.
Este ano, celebro-o homenageando estas minhas antepassadas, mulheres de fibra, generosas e lutadoras de que muito me orgulho.