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Última Paragem

O blog do bicho do mato

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Última Paragem

08
Mar21

Mulheres

Maria J. Lourinho

Esta é uma história verdadeira em que apenas os nomes foram alterados.

Josefa, Esmeralda, Ilda, Maria e Conceição, todas viveram nos anos de 1940. Mais velhas ou mais novas, a nenhuma foi estranho o rescaldo da Segunda Guerra Mundial e o salazarismo, com o seu cortejo de racionamentos, medos, carências e sacrifícios, num tempo em que, sem qualquer vislumbre de protecçao social, as pessoas estavam entregues a si próprias.

Josefa e Esmeralda eram irmãs, e Conceição era cunhada de Josefa.

A filha mais velha de Josefa, Joana, casou com Xavier, que era filho de Maria e irmão de Ilda.

Quando Xavier adoeceu com tuberculose, o jovem casal teve de deixar uma promissora vida na capital e de regressar às origens.

Doença e desemprego eram, e são ainda, causas maiores de pobreza, humilhação e sofrimento, caso não se tenha uma rede de apoio para amortecer a queda.

A rede física e psicológica deste casal foi formada pelas cinco mulheres inicialmente nomeadas.

Era preciso comprar penicilina, novo e caríssimo fármaco, para salvar Xavier.

Para isso, e sem hesitações, Ilda, a irmã de Xavier, vendeu todo o seu ouro e Maria, mãe de Xavier, vendeu não só o ouro, mas também a máquina de costura, um bem caro e precioso para as mulheres da época, quantas vezes comprado com muitas e sacrificadas prestações.

A mãe de Joana, mandava tudo o que podia para a alimentação e a tia Conceição, dona da casa que o casal arrendava, pagava do seu bolso a renda da casa ao próprio marido, sem que este desconfiasse da tramoia.

Quando Xavier melhorou mas ainda não tinha trabalho, e saía um pouco ao domingo à tarde, muitas vezes a tia Esmeralda, subrepticiamente metia-lhe no bolso uma nota de 20 escudos para as suas necessidades – tabaco, café e jornal, as necessidades mínimas de um homem naquele tempo.

Um verdadeiro complô de mulheres tomou conta do casal e salvou-o, deixando os homens nas suas vidas e na sua ignorância. Ou, pelo menos, elas assim acreditavam.

 

8 de Março é o Dia Internacional da Mulher.

Este ano, celebro-o homenageando estas minhas antepassadas, mulheres de fibra, generosas e lutadoras de que muito me orgulho.

 

 

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