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Última Paragem

O blog do bicho do mato

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Última Paragem

13
Mai23

Não fumo há dez anos mas...

Maria J. Lourinho

acho este artigo de José Pacheco Pereira no Público de hoje, muito pertinente.

Alguns excertos:

Se o “tabaco mata”, mais valia então proibi-lo, do que ter um pé na liberdade de fumar e outro na prevenção dos malefícios do tabaco, sendo que o primeiro pé é tão esmagador que vai muito para além da prevenção, tem uma componente punitiva que afecta a liberdade individual, que passa, como é obvio, pelo direito de escolher riscos.

...

De facto, o SNS deve em certa medida suportar os custos de certos vícios, porque há uma liberdade individual a montante que implica opções de vida que não são “higiénicas”, e quase todas têm custos. Comer gorduras, beber vinho ou cerveja, praticar desportos radicais, apanhar sol a mais na praia, escalar uma montanha, pescar nas bordas das rochas, andar de trotinete com a família toda em cima, nadar numa praia não vigiada, são tudo actividades legais que tem custos na nossa saúde.

...

As sociedades não são assépticas, os homens e mulheres devem ter liberdade de conduzir a sua vida pessoal como entendem, sempre, como é óbvio, sem afectar terceiros, embora em bom rigor isso seja, no limite, impossível. Mas não é nas escassas moléculas de nicotina que se podem inalar ao ar livre, ou numa praia. O que esta nova legislação pretende é moldar os comportamentos através de proibições muito para além da sua utilidade médica, interferindo na vida privada e na sua liberdade intrínseca de, entre outras coisas, fazer asneiras.

...

As sociedades perfeitas não são livres, aprendemos com o “homem novo” de Estaline, com a limpeza étnica dos pogroms e da supremacia branca, e com o regime ideal das utopias sanitárias.

24
Jan23

Denzel Washington e Madame Bovary

Maria J. Lourinho

Nomes e mais nomes: cisgénero, transgénero, não-binário, género neutro. E depois poliamoroso, demissexual, arromântico, flúido, e ainda uma infinidade de outras categorias, quer de género quer sexuais, são hoje termos que nos entram pelos sentidos como uma emergência, quando não como a temática mais importante da humanidade.

Foi no início dos anos 1980 do século passado que Margaret Thatcher começou a destruir a sociedade tal como ela se tinha construído no pós-guerra, com a afirmação de um pensamento diverso e mais egoísta, perfeitamente ilustrado por esta sua bem conhecida frase:

 Who is society? There is no such thing! There are individual men and women and there are families

Hoje podemos dizer que o seu pensamento vingou nas sociedades liberais, mas nem ela conseguiu acertar em cheio, pois só previu homens e mulheres. E nem lhe passava pela cabeça o lugar central que a identidade viria a assumir e como seria grave não a ter em atenção.

Se lhe falassem em questões de género, teria, certamente, respondido de novo:

There is no such thing!

Mas há, sem dúvida. O drama é que estas questões estão a ser levadas a extremos que as pessoas comuns não entendem e, por isso mesmo, acabarão por rejeitar com veemência.

Abordar estes temas, explicar, e deixar que, aos poucos, as pessoas os entendam e assimilem, é uma coisa, (e todos temos a ganhar com o reconhecimento duma sociedade mais diversa), impor e cancelar é outra bem diferente, própria de sociedades totalitárias de má memória.

E quando uma companhia de teatro, como o Teatro do Vão, aceita que andou mal, e se penaliza e concede que um papel de transsexual só pode ser representado por alguém transsexual devia ser proibida de fazer teatro, por não ter percebido o elementar - teatro é representação, a arte, de uma maneira geral, é representação. E se não percebeu isso, não percebeu nada. Se, em 2023, ainda não percebeu (passe o exagero) que Denzel Washington podia fazer o papel de Madame Bovary desde que o fizesse bem, insisto, ainda não percebeu nada - nem de representação,  nem de arte, nem do mundo em que vive. 

Só se agarra ao ar do tempo. E mal.

 

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