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Última Paragem

O blog do bicho do mato

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Última Paragem

07
Fev23

Elas

Maria J. Lourinho

Calhou olhar pela janela e vê-las.

Duas mulheres ainda novas estão paradas a conversar; carregam casacos, malas e lancheiras. Por várias vezes, a linguagem corporal indica que se vão separar, mas não, ainda há coisas para dizer.

Por fim, envolvem-se num longo e genuíno abraço.

Sei, exactamente, o que estão a dizer:

Gostei tanto de te encontrar! Também eu! Havemos de marcar um cafezinho para pôr a escrita em dia com mais tempo. Isso! que boa ideia!  Liga-me! Vou ligar, sim!

 

Não o farão. Não têm tempo.

 

15
Jan23

Amenidades

Maria J. Lourinho

Os tempos não vão de feição para amenidades – raramente me sinto bem tratada numa loja ou num serviço público, os vizinhos se puderem passam ao largo e, à medida que os anos avançam, os mais velhos, sobretudo as mulheres como eu, vão ficando transparentes, isto é, na rua, os jovens nem nos vêem mesmo que esbarrem connosco.

Daí que muito estranhe um, para mim quase fenómeno, que se me vai repetindo.

Ao caminhar na rua, vejo em sentido contrário alguém que me está a olhar e a sorrir. Por vezes, quando nos aproximamos e se gera o contacto visual, ao sorriso junta-se um franco bom dia, ou boa tarde.

Ora, eu creio que nunca tive uma cara particularmente simpática à primeira vista, nem especialmente bonita, se descontarmos a frescura da juventude, e posso jurar que não me lembro de ter vivido, em algum momento da vida, situações como as que descrevi. Chego a olhar-me na vidraça da montra mais próxima para ver se está tudo bem com o vestuário e os cabelos, dado o inusitado destes momentos tão em contra-ciclo.

Fico perplexa e não sei o que fiz para merecer tais afagos de alma.

Mas gosto, sim, gosto. Gosto até muito. E sou grata.

07
Out21

Dos dias

Maria J. Lourinho

Na minha zona, há um troço de rua que não terá mais duns quarenta metros. Nos topos deste troço, há cruzamentos e semáforos. Estes, hoje, estão a ser arranjados, logo, apagados. Para comandar o trânsito, contei no conjunto dos dois topos, nove polícias ( cinco num e quatro no outro), todos de apito em riste, perdão, em beiço, o que me faz sentir numa festa de carnaval, com muito samba, serpentina, trem eléctrico e tudo.

As nossas forças policiais andam, de facto muito desfalcadas.

14
Jan21

Odores

Maria J. Lourinho

Há muitos meses que a nossa vida na rua deixou de ter cheiros. É asséptica, sem densidade. E isso, parecendo pouco, é muito perturbador. Pelo menos para mim.

Lembro o livro “O Perfume” de Patrick Süskind, no qual o protagonista (assassino) é um homem sem cheiro mas de extraordinário olfato.

No livro, o autor escreve que "o odor é a essência, e o que não tem essência não existe”.

A vida sem máscara e, portanto, com odores, existe, nós é que já começamos a esquecê-los – erva húmida, flores, cozinhados, tabaco, gasolina, cocó de cão, fruta à porta da frutaria, perfumes de homem, perfumes de mulher, tintas, fumo de lareiras, por exemplo.

Comecei a ter muitas saudades.

 

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