Chicote hoje não
"Ahmed Ashour perdeu a mulher e dois filhos num bombardeamento israelita à Faixa de Gaza. Sobreviveu apenas uma filha bebé. A residir em Portugal há nove anos, diz que ministro dos Negócios Estrangeiros devia demitir-se"
Jornal de Notícia 16/11/2023
Lamento profundamente o drama vivido por Ahmed Ashour (bem como lamento o martírio de todos os Ahmeds deste mundo), mas não ando com vontade de usar o chicote. Não posso, pois, deixar de achar curioso que este homem nunca responsabilize pela sua perda, nem Israel, nem o Hamas nem o governo Egípicio com os seus imensos entraves na fronteira, nem a si próprio, que deixou a família em Gaza e voltou para acabar um doutoramento, ao que dizem as notícias.
Não, ele culpa, pela morte da sua família, e por não a ter tirado a tempo de um dos sítios mais perigosos do mundo, no meio da mais mortífera guerra dos últimos anos - por acaso o sítio para onde ele a levou - o Ministro dos Negócios Estrangeiros português. Tanto que até pede a sua demissão.
Mesmo dando de barato que ele sofre desalmadamente, acho extraordinário.
Realmente extraordinário!
Aprende lá Ahmed, que o nosso país (meu e teu), às vezes porta-se mal, mas nem sempre.
Talvez, por isso, não precisemos de estar sempre de chicote na mão para o flagelar, e possamos olhar um pouco a nossa volta.