Maria J. Lourinho
Há dias, a Ministra das Finanças sueca deu ao Público uma entrevista sobre o regime fiscal dos suecos que vivem em Portugal e que não pagam IRS em nenhum dos dois países, ou pagam pouco.
Dizia a ministra:
“Se um doente sueco e um doente português estiverem lado a lado num hospital [em Portugal], o português pagou impostos pelos dois, porque os suecos têm todos os direitos — cuidados de saúde, transportes públicos —, mas não pagam impostos.”
Apetecia-me responder à ministra que, apesar de considerar este regime imoral, o que ela diz é apenas uma meia verdade, porque o sueco pagou aqui alguns impostos por via dos gastos feitos com a sua recheada carteira, o que sempre nos dá muito jeito.
Mas gostava também de lhe dizer que a cena do sueco caído no hospital público português é pura ficção. A acontecer, o homem fugiria rapidamente para um hospital privado ao ver-se rodeado de tantos velhos portugueses sem dentes, carcomidos por anos de trabalho e exploração desenfreada, pouca instrução e que, tal como ele, sueco, também nunca pagaram IRS, mas por via dos seus muito baixos rendimentos.
Seria uma enfermaria cheia de gente que não paga IRS.
Porém, senhora ministra, se nem o seu sueco milionário nem os nossos velhos pobres, pagam IRS, nem mesmo assim nós os deixámos morrer durante a pandemia, ao contrário do seu civilizado e rico país, que os deixou morrer aos milhares, convencido que esse era o modo mais rápido e barato de atingir a imunidade de grupo.
O referido regime fiscal é, de facto, iníquo, mas sabe, senhora ministra, os pobres às vezes, para comerem, têm que saltar o muro e roubar fruta.
E os vossos discursos, cheios superioridade moral mal disfarçada, já não colhem, nesta nossa Europa de egoísmos individuais e do salve-se quem puder.
É um verdade triste, mas é assim.