No metro
Espero, olho e penso.
Nunca sabemos se temos transporte, seja comboio, autocarro ou metro.
Nunca sabemos se as nossas crianças têm aulas ou, sequer, se a escola abre (a cada ano ficam por dar dois milhões de aulas).
Nunca sabemos se a maternidade está aberta para termos um filho.
Nunca sabemos se o 112 vai atender a tempo de nos acudir.
Nunca sabemos se, no fim do contrato, o senhorio nos vai despejar.
Nunca sabemos se no fim do contrato o patrão nos vai despedir.
Finalmente, o metro veio. A custo, entro. Um monte de corpos que procuram não se tocar, rostos fechados que só olham para dentro, ar rarefeito de cansaço e dúvida.
Felicidade e incerteza nunca viveram juntas.
Isto tudo não vai dar bom resultado.