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Última Paragem

O blog do bicho do mato

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Última Paragem

28
Jul22

Dia de ser demónio

Maria J. Lourinho

De há dois ou três meses para cá, quase todos os dias me cruzo, na minha caminhada matinal pelo jardim, com um senhor já de alguma idade mas ainda ligeiro.

Quando o vejo, aí a uns trinta metros, percebo que tem uma máscara pendurada duma orelha. Mal ele me topa, à mesma distância, pendura a máscara também na outra orelha para estar devidamente protegido de mim, que nunca passo a menos de uns cinco ou seis metros dele. Suponho que faz o mesmo com toda a gente e não será embirração comigo.

Com os meus botões penso sempre o que lhe adiantará tanta manobra de põe e tira ali no jardim, a céu aberto e com pouca frequência àquela hora da manhã.

Isto é o que penso em dias normais mas, nos meus dias de ser anjo, sinto até simpatia para com o avisado cidadão (que por acaso não gosta de dar bons dias) que tanto se esforça a exercitar as pernas como a ginasticar os braços, para o que usa o constante afã com a máscara meia dose ou dose inteira.

Mas eu também tenho os dias de ser diabo e hoje era um desses. Quando o vi lá longe a pendurar o trapo na orelha fui, sorrateiramente enviesando a marcha para acabar por me cruzar com ele, mesmo, mesmo ombro a ombro.

Por uma vez o senhor deve ter pensado – ainda bem que me protegi desta maluca.

E eu pensei: de vez em quando sabe bem fazer uma patifaria(zinha). Faz bem à pele, liberta os poros e, como acabei rindo, ainda alarguei a caixa torácica.

14
Set21

Eu, a Graça e as máscaras

Maria J. Lourinho

A nossa Directora Geral de Saúde levou meses para nos dizer que usássemos máscara. 

Eu, que ouvia a sua conferência de imprensa diária, ali pelo meio-dia, nem sei quantas vezes a ouvi dizer:

" não vale a pena usarmos máscaras porque elas não nos protegem, só nos dão uma falsa sensação de segurança". Yes!

Não sei se o dizia por não haver máscaras no mercado, se por acreditar no que dizia. No segundo caso seria incompetência, porque o mundo já viveu outras pandemias que nos trouxeram saberes, no primeiro nem sei dizer o que seria. É certo que não havia máscaras no mercado, mas o discurso podia ser -  "tapar a boca e o nariz protege-nos a nós e aos outro; se não há máscaras, usemos um lenço ou um cachecol".

Agora, a situação mudou. Com a larga maioria da população vacinada, finalmente podemos tirar a máscara na rua, mas o tom usado é de quem nos dá um rebuçado lembrando sempre que o açúcar mata e que, por isso, é melhor não o comer.

Talvez por isso, o que vejo na rua nestes dois dias é exactamente o mesmo que antes, isto é, uns com máscara e outros sem ela, cada um fazendo conforme está mais de acordo com a sua maneira de viver e entender a situação.

Porém, é bom não esquecer que o uso sistemático da máscara nos retira também a possibilidade de criarmos imunidade e defesas para outras infecções.

Se não nascemos de máscara, por alguma razão será. Acho que até a doutora Graça sabe isso...

 

 

 

06
Abr21

Um incidente na via pública

Maria J. Lourinho

Hoje, de regresso do meu passeio matinal, em paz com a vida e comigo mesma, enfrentei um incidente de, digamos, cidadania.

Na minha rua há uma obra que dura há anos. O empreiteiro, como ocupa todo o passeio fronteiro ao prédio, fez um passadiço em U para os peões.

Acontece que hoje verificaram-se duas anomalias: do lado de fora do passadiço, (na base do U), estavam encostadas duas carrinhas. Se eu decidisse contorná-las, estaria imediatamente a meio da rua, por acaso cheia de tráfego àquela hora da manhã.

Dentro do passadiço, mais exactamente no seu cotovelo, no sítio onde é mais estrito, estava um operário (MEO, creio) a mexer numa maquineta, sem máscara. Como eu teria quase de lhe roçar o ombro, parei e disse: dá-me licença? Ao que ele, sem se desviar, respondeu, passe.

Passei, contrariada, mas reparei que um polícia municipal estava presente, para aquela grande trabalheira que eles têm, de fazer plantão ao pé de cada obra, e que ele ouviu e viu toda a cena. Voltei atrás, e disse-lhe que as regras não estavam ali a ser cumpridas. Resposta – já não há regras. Inclinei-me um pouco para ver o nome no crachá e mais nada disse. Quando virei costas, sua excelência exclamou – não tem mais nada que fazer.

Mas tinha. Cheguei a casa e mandei um email para a Polícia Municipal expondo o sucedido.

O funcionário da MEO andaria nos seus 50 anos e o polícia nos 40.

Há cada vez mais gente apostada em matar a minha esperança neste país.

20
Fev21

Pim-Pam-Pum

Maria J. Lourinho

A mais comum viagem das máscaras em Portugal ao fim de um ano:

Debaixo do nariz - Pim 

Debaixo do queixo - Pam

Debaixo do pé - Pum

Nota: Pim-Pam-Pum- era o nome do suplemento infantil de um qualquer jornal na minha infância. Passou a integrar algumas lenga-lengas infantis e deu nome a música, filmes etc.

14
Jan21

Odores

Maria J. Lourinho

Há muitos meses que a nossa vida na rua deixou de ter cheiros. É asséptica, sem densidade. E isso, parecendo pouco, é muito perturbador. Pelo menos para mim.

Lembro o livro “O Perfume” de Patrick Süskind, no qual o protagonista (assassino) é um homem sem cheiro mas de extraordinário olfato.

No livro, o autor escreve que "o odor é a essência, e o que não tem essência não existe”.

A vida sem máscara e, portanto, com odores, existe, nós é que já começamos a esquecê-los – erva húmida, flores, cozinhados, tabaco, gasolina, cocó de cão, fruta à porta da frutaria, perfumes de homem, perfumes de mulher, tintas, fumo de lareiras, por exemplo.

Comecei a ter muitas saudades.

 

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