Maria J. Lourinho
Quantas de nós tivemos, temos, ou fomos educada por uma mãe autoritária, ansiosa, preconceituosa, muitas vezes infeliz e também muitas vezes agreste na relação com as suas filhas (mas não com os seus filhos homens), que nos vai moldadndo a personalidade e o futuro.
Uma mãe que dispara à queima roupa, por exemplo,: estás gorda, ou, mais docemente, tens o rabinho maior, não gosto nada dessa roupa, a saia está curta demais, esse penteado fica-te mal, estudar fora para quê? Aqui não serve à menina?
E, no meio de isto tudo, há um amor incondicional de ambas as partes. Indestrutível.
São Vínculos Ferozes.
E, Vínculos Ferozes, é precisamente o título deste livro de Vivian Gormick, judia americana, nascida em Nova Iorque em 1935.
Escreveu ensaios, memórias romances, foi professora e jornalista e é um nome incontornável do feminismo.
Escreveu este livro em 1987, sem grande sucesso. Nele, desfia memórias do seu crescimento no Bronx, onde nasceu, e da sua vida com a mãe, enquanto ambas, uma madura e outra maduríssima, uma viúva e outra divorciada, fazem caminhadas pelas ruas de Manhattan. Os comportamentos não se alteraram com o passar dos anos, de tal modo que a autora chega a escrever:
“Uma de nós vai morrer deste vínculo”
O livro foi recentemente descoberto pelo movimento MeToo e alcançou grande êxito.
Depois disso, Vivian Gormick ficou rica, e numa entrevista ao jornal brasileiro O Globo, afirma:
- Eu preciso te contar: mais do que as reedições e todo este fuzuê, o que me tira mesmo do sério é ter, a esta altura da vida, ficado rica. Como sempre vivi na falta dele, não sei o que fazer com dinheiro. É muito tarde, aos 88 anos, pra mudar meu estilo de vida, mas já pego táxi quando chove e não preciso mais escolher o prato mais barato do cardápio.
E eu não preciso de saber física quântica ou discutir filosofia, embora gostasse, porque, na verdade, são as pessoas assim, com quem convivo nos livros, que fazem os meus dias.