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Última Paragem

O blog do bicho do mato

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Última Paragem

01
Abr24

O senhor leitor

Maria J. Lourinho

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Encontro no Instagram um senhor, que nem me parece já muito novo, que faz questão de todos os meses publicar a lista dos livros que leu nesse mês.

Houve uma vez em que  me armei em miúda impertinente e lhe perguntei se cada livro tinha 20 páginas.

Ficou muito ofendido, claro, e eu calei-me (sei que nem devia ter chegado a falar, mas tentação é tentação).

Num post lá mais atrás, publicou que os livros lidos em 2023 foram 111 (Ena!)

Ontem, publicou a sua lista de Março 2024. Eram doze, ou seja, dividindo, 3 livros por semana.

Ora, eu considero-me uma razoável leitora, e por isso fui olhar a estante e, sem delongas, calculei que este ano, (em 3 meses, portanto), devo ter lido 10 ou 11 - num trimestre, menos que este senhor num só mês. Caso para me autoflagelar - Sua preguiçosa!

Voltando ao caso em apreço, mesmo que o senhor não faça mais nada na vida, é preciso arranjar tempo para comer, dormir, cuidar da higiéne, e andar, pelo menos, numa rede social. 

E o resto é para a leitura.

Posto isto, de cada vez que o senhor me aparece com a sua lista, não consigo deixar de pensar que, das duas umas: ou ele nos está a enfiar um barrete, ou fica mais barato engordar um burro a pão-de-ló.

Vou mais pela primeira; até porque é a única que, no fim de contas, me diverte e me faz rir.

09
Mar24

Leitura e liberdade

Maria J. Lourinho

livros.jpg

"Porque é que ler conta, e muito, para a liberdade?
Ler, uma actividade em extinção, por muito que as livrarias estejam cheias de feéricas capas, por muito que se diga a gigantesca asneira de que ler num ecrã de telemóvel é o mesmo que num livro (experimentem a Montanha Mágica ou a Guerra e Paz…), ou que a “geração mais preparada” pode fazer um curso superior sem ler um livro (bem, dois, três e já é muito), e por aí adiante. Falar e escrever bem também estão em extinção, com a redução do vocabulário circulante a pouco mais do que os antigos 140 caracteres do Twitter, agora 280 no X, o que vai dar ao mesmo – a enorme dificuldade de expressão que se vê todos os dias e por todo o lado. Qual é o problema? É que quem não lê, não fala e não escreve decentemente, é menos livre, mais facilmente manipulado, menos eficaz em coisa alguma importante, mais fácil de ser mandado e de não mandar nem em si próprio. Ou seja, repito, menos livre."

Pacheco Pereira, Público, 9 Março 2024

10
Set23

Limpa

Maria J. Lourinho

Limpa.jpgDizem-nos que a luta de classes acabou, que somos todos "colaboradores" uns dos outros. Nada mais falso.

Ela está viva, sem gritos, punhos erguidos ou pancadaria (excepto em França, claro), mas viva.

É surda porque vive e cresce em surdina, parece mansa mas tem a raiva de sempre, e pode ser agressiva. este livro aí está para contar tudo isso. 

E recomenda-se.

04
Mai23

Leitura rápida

Maria J. Lourinho

bertrandlivreiros-photo-2023_05_04_17_31.jpg

Amos Oz é um dos meus escritores, e tinha muita razão no que aqui dizia.

As pilhas de livros lidos em pouco tempo, e devidamente fotografadas, nunca me entusiasmaram, ao contrário, desconfio. É que "o mundo não pode ser descoberto numa leitura rápida".

Aprendemos isso com o passar dos anos. E dos livros.

PS: foto do Instagram

20
Mar23

Book Influencers e sexo

Maria J. Lourinho

Ali na estante diante de mim, está o meu exemplar do romance O Leitor, de Bernhard Schlink, obra muito conhecida, sobretudo graças ao filme que a partir dele se fez. O meu livro tem as folhas amarelecidas, é de 1998, publicado pela desaparecida editora ASA.

Lembro-me de, no final da leitura, comentar como tinha gostado, e como, ao fim de tanta literatura lida, um romance ainda podia surpreender-me tão fortemente.

Há dias, li o parecer duma book influencer no Instagram (3 mil e tal seguidores), em que considera que o livro tem algo de muito problemático – um miúdo de 15 anos tem uma relação com uma mulher de 36 (na Alemanha do pós-guerra). A influencer vai por ali afora, sempre batendo na mesma tecla, embora pelo meio faça algumas outras interpretações abstrusas, e termina insistindo que uma relação entre uma criança de 15 anos e uma adulta de 36 é claramente problemática “para dizer o mínimo”.

Ora eu, para dizer o mínimo, pergunto quem é que, em 2023, e sexualmente falando, entende um rapaz de 15 anos como uma criança (subrepticiamente seduzido, subentende-se)

E antes de 2023, por toda a história da humanidade, sexo com um rapaz de 15 anos alguma vez foi considerado desvio de menores? Não me lembro!

Porém, a crescente infantilização da nossa sociedade, em que se vai ao pediatra até aos 18 anos e se fica em casa dos pais até bem depois dos 30, leva a que as delicadas e moralistas cabeças das nossas influencers se possam atormentar com o sexo consensual entre uma mulher madura e um adolescente, num romance que se passa na década de 1950.

Curioso é que essas cabeças dizem que leem muitíssimos livros, e a mim parece-me que nem eles estão a conseguir fazer o milagre de as abrir e arejar.

Se não eles, quem?

 

 

03
Mar23

Leitores

Maria J. Lourinho

"Sheddan dissera uma vez que ter lido uma dúzias de livros em comum era um laço mais forte do que o sangue".

em "O Passageiro ", Cormac McCarthy.

Sobre o livro, como não sou capaz de dizer nada, "roubo" o Pedro Mexia no Expresso:

"Um objecto estranho tão magistral como confuso"

PS: A foto, cujo autor deconheço, é só porque sim.

Fb sometimes life is black and white.jpg

24
Mar21

Crescer sem livros

Maria J. Lourinho

” a tribo chama por ele (o rapazinho) sem parar, na lição de judo ou de viola, no clube de teatro e até na biblioteca! A experiência da solidão, do olhar fixado na janela por cima dos telhados, a experiência dessa tão estranha e doce tristeza que se esconde no fundo de cada livro como uma luz feita de sombras, essa experiência fundamental que é, afinal, a iniciação ao mundo e à finitude, essa experiência é quase impossível, proibida, até.”

Michel Crépu

"Esse vício ainda impune"

21
Out20

Leituras I

Maria J. Lourinho

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"Gandhi dava de facto espaço às mulheres para participarem no movimento nacional. Mas elas tinham de ser virtuosas; tinham, por assim dizer, de ostentar na sua pessoa "marcas" que "esterilizassem o olhar do pecador". Tinham de ser mulheres obedientes que nunca desafiassem as estruturas tradicionais do patriarcado.

Gandhi pode ter desfrutado e aprendido muito com as suas "experiências". Mas ele já lá vai e deixou aos seus seguidores o legado de um mundo sem graça, livre de piadas: nenhum desejo, nenhum sexo - que descreveu como um veneno pior que veneno de cobra - nem comida, nem colares, nem roupa bonita, nem dança, nem poesia. E muito pouca música. É verdade que Gandhi influenciou a imaginação de milhões de pessoas. Mas também é verdade que debilitou a imaginação política de outros tantos milhões, com os seus padrões impossíveis de "pureza" e retidão como qualificação mínima para a intervenção política"

Coração Reberde ---- Ensaios Escolhidos

Arundhati Roy

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