O cão que passeia o homem
No meu bairro, há um homem muito velho que, duas vezes por dia, passeia o seu cão pug, que não é velho, é muito, muito velho, e como todos os animais na sua situação, cansa-se.
Ambos se apresentam sempre muito limpos e dignos
Quando está cansado, o pug pára, senta-se ou deita-se e, como quem está na praia ou na esplanada e tem todo o tempo deste mundo, fica a ver quem passa, o tempo que lhe apetece.
O homem velho, de paciência e amor infinitos, segura a trela e fica ali de pé, à espera, olhando também quem passa mas, mais frequentemente, para o próprio cão. Se este lhe apetecer ficar no meio do passeio, o homem velho fica também, e nem a uma parede se encosta.
Sempre me parece que quem manda ali é o cão, e que é o cão que passeia o homem, e não o homem que passeia o cão.
No fundo, é a velha história - em todos os casais, há um que ama (neste caso, o homem) e outro que se deixa amar (neste caso, o cão)
Seja como for, a cumplicidade na quarta idade é coisa sempre linda de se ver.
Boa semana.