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O blog do bicho do mato

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22
Jan21

As crónicas de Ferrante

Maria J. Lourinho

Ferrante.jpg

A foto é minha mas pode levar

As crónicas que Elena Ferrante escreveu durante um ano a pedido do jornal inglês Guardian, reunidas no livro "A Invenção Ocasional" mostram que esta não é a categoria literária em que se sente confortável. Escritora de grande fôlego no romance ou no conto longo, a crónica parece ser para ela uma cela de prisão em que as suas "habilidades" definham.

E, se algumas ainda se lêem com agrado, noutras sente-se que foi penosa a necessidade de cumprir o contrato assinado.

Como sempre, nem tudo se perde, e eu retive uma boa sentença para pensar:

As crenças não são boas nem más, servem somente para dar uma ordem à desordem das nossas angústias

11
Out20

"A Vida Mentirosa dos Adultos", Elena Ferrante

Maria J. Lourinho

2013.JPG

Nápoles, 2013

Mais uma história bem contada, passada em Nápoles, embora sem a densidade da tetralogia.

É um livro sobre a adolescência e a passagem para o estado de jovem adulto, no feminino.

História não situada no tempo, mas que eu situaria na primeira metade dos anos 1990. Geograficamente, ao contrário, Nápoles é um dos personagens principais. Com os seus bairros estratificados socialmente, os seus desníveis orográficos são pano de fundo natural para a parte “upstairs/downstairs” do romance.

As trocas de parceiros (não ocasionais, mas definitivas) dos dois casais parece pouco verosímil, bem como a relação de Roberto e Giuliana.  Ele é alguém que nasce “lá em baixo” mas que pela superior inteligência e brilho próprio ascende à vida universitária em Milão; Giuliana, por seu lado, mantém-se “lá em baixo” sem saber muito bem se quer subir com Roberto ou trazê-lo, de novo, para baixo. Acaba por ir para Milão mas parece uma relação sem pernas para andar dado o grande desnível intelectual, coisa que Giuliana percebe. De Roberto, porém, não sabemos o que intui ou espera da relação, o que é um ponto fraco do livro.

A dolorosa passagem da adolescência da heroína do romance é o que são quase todas as adolescências: as descobertas das fraquezas dos adultos que admirou incondicionalmente, a contestação, o desejo de os chocar quer pelo vestuário, linguagem, desapego, chumbos,  afirmação da individualidade. A descoberta do sexo é fulcral no livro. Giovanna começa por encontrar o prazer na masturbação e nas relações homossexuais com a amiga, para partir depois à descoberta do homem. As experiências que tem são exclusivamente físicas e detestáveis, ou mesmo nojentas, segundo ela. Julga ter encontrado o amor na pessoa de Roberto mas, ao contrário do que pensa, não quer, verdadeiramente, dormir com ele.

A perda da virgindade acaba por consumar-se numa espécie de crua transacção , assim como quem vai ao dentista porque tem que ir, sem qualquer ligação com quem lhe escarafuncha a boca, desejando sair dali com o “serviço” feito, apenas porque ele TINHA DE SER FEITO.

O romance termina com este episódio e Giovanna parte feliz para férias em Veneza com uma amiga “de cima” ao encontro de um amigo “de baixo”.

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