Gordura e capitalismo
Luís Pedro Nunes, que no Eixo do Mal da Sic frequentemente se enrola todo no discurso, é um excelente jornalista, escreve muito bem.
As suas crónicas semanais na revista E do Expresso, trazem-nos quase sempre temas curiosos e inusuais.
Se, no Eixo do Mal, não é raro eu aproveitar o tempo de antena dele para ir lavar os dentes, as suas crónicas escritas da E raramente me escapam.
À mais recente, deu-lhe o título de "A Sociedade do Açúcar" e nela fala um pouco da história do açúcar ao longo dos séculos e de como o seu uso alterou as sociedades. E vai continuar a alterar, segundo crê, com base em novos fármacos que prometem acabar com a obesidade.
Deixo um excerto da sua crónica para aguçar o apetite (mas não de açúcar )
As faculdades “miraculosas” dos semaglutidos ou outras drogas antiobesidade terão sempre a oposição de um dos mais fortes pilares do capitalismo, assente em açúcar, mas poderosíssimo. Quando está a tomar estas drogas e/ou quando se decide por uma alimentação saudável, o consumidor não tende a diminuir a quantidade de junk food ou de calorias. Mas, sim, a eliminá-las por completo. As cenourinhas McDonald’s e a Coca-Cola Zero deixam de apetecer sequer. Esta indústria é grande demais para cair de um dia para o outro. Os números de Wall Street podem prever hecatombes nos conglomerados alimentares, mas será para fazer dinheiro rápido. Se tal acontecesse, teríamos de refazer a sociedade, indústria, distribuição, o sistema publicitário, tudo. Um mundo de magros seria uma devastação para o atual capitalismo.