Dia Internacional da Mulher
Ano da graça de 2024! O que nós andámos para aqui chegar.
Nos últimos 50 anos, desde Abril, os progressos foram gigantescos e, às jovens mulheres de hoje, felizmente, nem passa pela cabeça a ausência de direitos que, sucessivas gerações das suas parentes, viveram em Portugal.
No mundo, nem se fala.
Estamos, porém, ainda longe da igualdade de géneros; não na lei, mas nas cabeças, mesmo nas cabeças dos mais empedernidos homens feministas.
A imagem que reproduzo é um exemplo claro do que digo.
Encontrei-a numa rede social e é a parte da frente de uma t-shirt, vestida por um homem, feminista, defensor da completa igualdade de géneros e apoiante do BE.
Quem assistiu ao debate televisivo entre Mariana Mortágua e André Ventura, lembra-se, talvez, de este último ter dito - “posso interrompê-la?” ao que Mariana, prontamente, respondeu - “não, não pode” (o que está reproduzido na t-shirt).
Este diálogo seria considerado banal entre opositores em debate, se estes fossem dois homens; feiamente agressivo se fosse entre duas mulheres. Se tivesse sido dito ao contrário, dir-se-ia que Ventura era mal educado e misógino ( o que é verdade), tendo sido dito por uma mulher ao Ventura, virou bandeira de feminismo. Porquê? Porque não é suposto uma mulher responder ao Ventura como qualquer homem. Isso não acontece nem na cabeça do mais sólido feminista. Se uma mulher, em confronto, é firme, segura, e até, quiçá, um pouco grosseira com um homem, e o manda calar, merece a cara numa t-shirt.
Acrescente-se-lhe, num canto da dita t-shirt, a mesma heroína montada numa mota, e temos um estereotipo todo virado do avesso, mas estereotipo na mesma.
Como disse lá em cima, a igualdade de géneros entrou na lei mas não nas cabeças, mesmo nas que estão cheias de boas intenções.
Mulheres do meu país: a luta continua.