Por um par de moedas
Por um par de moedas, estamos sempre prontos para desempenhar o papel de idiotas úteis na Europa
As imagens são do Expresso online
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Por um par de moedas, estamos sempre prontos para desempenhar o papel de idiotas úteis na Europa
As imagens são do Expresso online
Ontem, fez um ano que os primeiros casos de Covid-19 foram confirmados em Portugal.
Nas nossas monotemáticas televisões só faltou cantarem os parabéns e soprarem a velinha do primeiro aniversário.
(até apetece dizer asneiras!!!)
Os OCS estão muito preocupados a contar as pessoas que caminham no paredão ou no jardim, ou as que sobem ou descem a Rua de Santa Catarina. Estas, porém, na sua larga maioria, cumprem. Estão ao ar livre, sozinhas ou com alguém com quem coabitam e evitam proximidade. Também há, é claro os que não cumprem, mas não é possível ter um polícia a vigiar cada português.
Quem não cumpre, é o Estado. Por falta de meios e de coragem para os encontrar. E a prova do que digo está aqui neste excerto que retirei do Público de ontem.
À porta do hospital em Loures:
“Não sei como foi possível o meu pai apanhar covid. Ele nunca sai de casa.” Conversa como quem vai enganando a espera. “O meu pai está sempre em casa”, repete.
Se não sai, só pode ter sido a outra filha que trabalha e vive com ele na mesma casa onde reside um outro irmão doente, diz Idalina. Ela própria esteve com o pai na véspera – mas tem estado pouco. “Ontem só lhe fiz uma festa na cabeça quando fui vê-lo”, diz mostrando o gesto com as mãos.
Não está a pensar fazer o teste, nem sabe que, por precaução, devia fazê-lo e, por dever, devia manter-se em isolamento. Nem a irmã, que cuida do pai, se predispôs a fazer o teste. “Nós dissemos-lhe mas ela não vai fazer o teste. Não sei porquê, ela é que sabe.”.
Cabe ao Estado acompanhar não só os doentes mas também os seus contactos, como se sabe. Esse acompanhamento é ainda mais importante em meios mais pobres e desinformados, mas o Estado não está a conseguir fazê-lo.
Ora, contra isto, batatas. Resta-nos chorar os mortos e contar os que andam no paredão.