Como estragar um negócio
Há mais de dez anos que tomo o café matinal sempre na mesma pastelaria.
Eram dois sócios, um risonho e falador, o outro sério e silencioso. Eram também três empregadas, todas redondas de carnes e todas bem dispostas.
Há uns anos o sócio risonho foi "cantar para outra freguesia" e deixou chafarica entregue ao sisudo.
Este, paulatinamente, foi despedindo as três empregadas, uma delas sua irmã, e por fim meteu lá a sua mulher.
Ficaram dois sisudos, sendo que a mulher é pior ainda que o marido.
Não preciso de pedir o café. Ela sabe o que eu gosto e serve-me um café do tamanho normal, sem açúcar, sem esquisitices modernas, de verão em chávena fria, de inverno em chávena quente.
É diligente, a senhora, mas então o par de trombas com que me recebe logo pela manhã?!
Muitas vezes tenho pensado: ora bolas, eu não mereço isto, isto não é uma maneira boa de começar o dia. Então porque continuas a vir? Ah!, é que os modos são maus mas o café é bom.
E isso chega? Não, não chega.
Breve chegará o dia em que me despeço desta rotina, tenho a certeza. Todos os dias penso nisso...!
E a vida continuará, mesmo que o café não seja assim tão bom.
Nota: na foto, a Pastelaria Versailles; nada a ver, claro, é só por contraste - é bonita e atende bem.