Berta Isla, Javier Marías
Javier Marías, Madrid, 1951
Se, dum total de quase quinhentas páginas, o editor tivesse convencido Marías a desfazer-se de umas cem, cá para mim a obra tinha melhorado substancialmente.
Limpar, limpar, limpar, julgo ser a grande dificuldade de qualquer obra de arte mas creio que é também nessa capacidade, ou na sua falta, que reside muito da grandeza do autor, qualquer autor.
Isto é só a minha opinião, claro, que não sou expert em nada.
Posto isto, e com um tema de espionagem tão cândido que a gente percebe logo tudo de entrada, até porque já leu uma pancada de livros do le Carré, Javier Marías escreve aqui sobre a espera, a solidão, o silêncio, a ausência, a canalhice, e ainda sobre essa coisa extraordinária que às vezes acontece às pessoas – a decisão de amar alguém.
Em longos períodos cheio de denso pensamento, ora tão explicativos que acabam por cortar a acção, ora de cariz intimista mas que já nada acrescentam ao que os clássicos nos ensinaram sobre o género humano, Marías compõe um livro cheio de altos e baixos, às vezes palavroso, às vezes sedutor.
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