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Última Paragem

O blog do bicho do mato

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Última Paragem

14
Ago22

Animar a malta

Maria J. Lourinho

Quando José Afonso cantava “o que faz falta é animar a malta”, não creio que fosse bem para isto – o modo como estamos a viver – que ele nos estivesse a incentivar.

Certo é que embarcámos numa animação destrutiva de tímpanos e pensamento (este com a prestimosa ajuda dos telemóveis).

Durante os muitos meses de uso de máscaras, era frequente sentir saudades dos aromas da vida diária nas ruas – relva, flores, motores, chuva, cozinhados, etc.

Agora, sinto saudades dum tempo que não volta, feito de coisas simples e de coisas que não havia, tais como – um arraial em cada bairro durante um mês com música aos gritos, uma música modernaça em cada esplanada, uma ou duas televisões em cada restaurante, clientes desses restaurante todos falando tão alto como se tentassem comunicar com surdos profundos, uma televisão em cada sala de espera, uma televisão em cada enfermaria de hospital.

Senhor, tende piedade. Agora que recuperámos os aromas, dai-me dias animados mas com nível de decibéis aceitável. Dai-me espaço para o silêncio, o encontro comigo mesma e com a natureza que ainda me rodeia.

E já agora, e sem querer abusar, faz com que os políticos se decidam sobre o novo aeroporto de Lisboa porque, de verão, a cada três minutos tenho um avião a sobrevoar o meu prato à hora do jantar.

Se não for pedir muito, baixa o som, por favor.

18
Jun21

Sentidos

Maria J. Lourinho

Fui ao Corte Inglés. Habitualmente, ao passar na zona da perfumaria, sinto um certo enjoo com aquela mistura de aromas. Hoje, pelo contrário, percebi que tinha saudades, mais uma vez, da vida como ela é.

Subrepticiamente, baixei a cabeça, desviei a máscara, inspirei profundamente, e aconteceu: um esplendoroso e aromático fogo de artifício na minha pituitária.

O chamamento dos sentidos é muito maior que o medo.

14
Jan21

Odores

Maria J. Lourinho

Há muitos meses que a nossa vida na rua deixou de ter cheiros. É asséptica, sem densidade. E isso, parecendo pouco, é muito perturbador. Pelo menos para mim.

Lembro o livro “O Perfume” de Patrick Süskind, no qual o protagonista (assassino) é um homem sem cheiro mas de extraordinário olfato.

No livro, o autor escreve que "o odor é a essência, e o que não tem essência não existe”.

A vida sem máscara e, portanto, com odores, existe, nós é que já começamos a esquecê-los – erva húmida, flores, cozinhados, tabaco, gasolina, cocó de cão, fruta à porta da frutaria, perfumes de homem, perfumes de mulher, tintas, fumo de lareiras, por exemplo.

Comecei a ter muitas saudades.

 

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