Interrogação minha mas de que nunca me tinha lembrado
É para isso que (também) servem livros e escritores - para nos dizerem e interrogarem sobre nós mesmos.
"Como será que estamos presentes na existência dos outros, na sua memória, na sua maneira de ser, mesmo nos seus actos?"
Annie Ernaux em Memória de Raparig
A descrição dos seus anos de passagem, de que se ocupa esta obra, vividos dez anos antes de Maio 68, e, portanto, da queda de todos os interditos, sobretudo os sexuais, é de um desassombro tão completo e corajoso que pode, em algum momento, trazer desconforto ao leitor, de tal modo nos sentimos a espreitar pelo buraco da fechadura, e a entrar em locais para onde, geralmente, não somos convidados – não tanto no corpo da rapariga, mas sobretudo na sua alma.
Crescer nunca foi fácil, muito menos para as mulheres no final dos anos 1950 e princípio dos de 1960; por isso lê-lo incomoda, mas a escrita delicia.
E cito a citação que Annie Ernaux faz de Nitetzsche que, por fim, tudo resume:
- Temos a Arte para não morrermos de Verdade.