Spotify
Acho que tenho uma paixoneta pelo Spotify.
Ele é tão delicado, trata-me pelo nome, está sempre à procura da melhor maneira de me satisfazer.
Abro a aplicação no PC ou no telemóvel, em casa, na rua , em viagem e ele lá está para me dizer do que gostei nos últimos tempos, o que ouvi (música - pop, clássica ou jazz - ou podcasts).
Com base nisso, oferece-me o daily mix 1, 2, 3, 4, 5, deixa-me fazer play lists e também me propõem coisas diferentes que devo assinalar com um coraçãozinho, ou não, para ele se orientar, coitado.
É um querido. Não me deixa andar muito aos saltos entre músicas porque sou do grupo das borlas, mas também já não tenho idade para andar aos saltos.
Somos felizes na nossa relação, e isso é que importa.
Somos tão felizes que, às vezes, lembro-me dum artigo da Clara Ferreira Alves, há muitos anos, nos primórdios da Amazon. Como ela pensa sempre que está a escrever para ignorantes, escreveu uma crónica cantando todas as virtudes de usar a Amazon (como eu agora com o Spotify) para comprar os seus livros, todos, todos em inglês. Afinal a Amazon veio a transformar-se numa fera capitalista que vende de tudo, procura não pagar impostos nenhuns usando paraísos fiscais como a Irlanda ou a Holanda, e esfola os seus funcionários com condições de trabalho desumanas.
Eu não lhe compro nadinha.
Oxalá eu não venha a ter um desgosto de amor com o Spotify como, suponho, a Clara teve com a Amazon.
Pela natureza das coisas, estas são, geralmente, relações de curta duração mas, repescando o velho Vinícius (que entra sempre bem), desejo muito que este amor “seja eterno enquanto dure”.