Sacudir a água do capote
Sempre que possível, tudo fazemos para sacudir a água do capote.
De cada vez que alguma coisa dramática nos acontece, tentamos imediatamente encontrar culpados fora de nós, porque assumir a culpa é doloroso, às vezes insuportavelmente doloroso.
E aceitar que alguma coisa não é culpa de ninguém é ainda mais difícil.
Vem isto a propósito da decisão do Tribunal Internacional de Direitos do Homem, que ilibou o Estado português no processo apresentado contra si pelo casal McCann.
A culpa sentida por este casal, pais de Maddie McCann, deve ser tão insuportável que, passados quase vinte anos ainda andam de processo em processo, procurando encontrar culpas noutos.
E este é só um exemplo. Assim de repente, lembro os pais dos universitários arrastados pelas ondas numa noite fria de inverno graças às suas descerebradas praxes, os desmedidos fogos de Pedrógão e os incontroláveis fenómenos naturais que nos recusamos a admitir que, de facto, não controlamos, ou a grávida que morre entre hospitais, numa viagem feita com todas as condições, mas a quem uma imprevista paragem cardio-respiratória surpreendeu pelo caminho.
Às vezes, a nossa dor é tão lancinante que precisamos de a substituir por um poderoso ódio e, nesse caso, encontraremos sempre alguém para quem o dirigir e a quem atribuir A CULPA.