Os Anos, Annie Ernaux
Depois de ter descoberto a escritora com o pequeno livro “Uma Paixão Simples” era urgente descobrir mais.
Os Anos (Edições Galimard, 2008 e Porto Editora, Livros do Brasil, 2020) em nada desiludem.
Annie Ernaux, leva-nos numa viagem desde o final da Segunda Guerra, anos 1940, até 2006. Não sei dizer se, através da história de França desse período nos conta a sua vida, ou se, pelo contrário, nos conta a sua vida através da História de França, de tal modo uma e outra se entrelaçam na escrita e se tornam uma só.
Mas se a História é a de França, a história da autora não é só dela – é de toda uma geração europeia que nasce com origens humildes mas que estuda e prospera, atingindo o estatuto duma classe média muitíssimo confortável.
Através de fotos, músicas, filmes, memórias de almoços familiares ou de momentos vividos, revivemos a caminhada de conquistas, tais como estudar na universidade, a legalização do aborto, Maio de 68, a eleição de Miterrand, mas também a guerra na Argélia, os atentados bombistas em Paris, o acelerar do tempo e do consumo, a chegada do mundo digital, a família e o amor.
Numa escrita particularmente honesta como esta, o livro não poderia terminar sem que a autora olhasse de frente o envelhecimento e a sua própria finitude.
Maravilhosa literatura.