Nós e os outros
Quer-me parecer que, ao longo do último século, não houve família portuguesa que não tivesse algum dos seus membros emigrado.
Brasil, EUA, Venezuela, França, Almanha, Suiça por exemplo, sem falar nas ex-colonias, têm recebido portugueses em séries sucessivas, por via das nossas crises sucessivas.
Quando as vacas estiveram gordas por aqui, nos anos de 1990, também nós recebemos muitíssimos imigrantes oriundos, sobretudo, dos países do leste da Europa. Russos e ucranianos formaram contigentes de homens e mulheres que ajudaram a modernizar o país. Eram academicamente formados mas faziam qualquer trabalho que pudessem fazer. Eram brancos, de olhos azuis, e adoravam o mesmo deus que nós, com pequenas variantes. Gostámos deles.
Na última década, ascendemos a novos-ricos, o que traz até nós centenas de milhar de imigrantes pobres, com poucos estudos, de pele escura e outro Deus.
Aí, salta-nos a tampa, atribuimos-lhes crimes que não cometem, despesas que não são deles e malfeitorias miúdas ou graúdas, conforme o que vem à rede.
Tendemos a acreditar que são eles que nos roubam, e que os banqueiros, ao contrário, são os nossos amigos.
E abrigamos um Ventura, com grande à-vontade, no ovo da serpente.
Mas os portugueses não são racistas, pois não? Ah, pois não!!!