Não fumo há dez anos mas...
acho este artigo de José Pacheco Pereira no Público de hoje, muito pertinente.
Alguns excertos:
Se o “tabaco mata”, mais valia então proibi-lo, do que ter um pé na liberdade de fumar e outro na prevenção dos malefícios do tabaco, sendo que o primeiro pé é tão esmagador que vai muito para além da prevenção, tem uma componente punitiva que afecta a liberdade individual, que passa, como é obvio, pelo direito de escolher riscos.
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De facto, o SNS deve em certa medida suportar os custos de certos vícios, porque há uma liberdade individual a montante que implica opções de vida que não são “higiénicas”, e quase todas têm custos. Comer gorduras, beber vinho ou cerveja, praticar desportos radicais, apanhar sol a mais na praia, escalar uma montanha, pescar nas bordas das rochas, andar de trotinete com a família toda em cima, nadar numa praia não vigiada, são tudo actividades legais que tem custos na nossa saúde.
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As sociedades não são assépticas, os homens e mulheres devem ter liberdade de conduzir a sua vida pessoal como entendem, sempre, como é óbvio, sem afectar terceiros, embora em bom rigor isso seja, no limite, impossível. Mas não é nas escassas moléculas de nicotina que se podem inalar ao ar livre, ou numa praia. O que esta nova legislação pretende é moldar os comportamentos através de proibições muito para além da sua utilidade médica, interferindo na vida privada e na sua liberdade intrínseca de, entre outras coisas, fazer asneiras.
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As sociedades perfeitas não são livres, aprendemos com o “homem novo” de Estaline, com a limpeza étnica dos pogroms e da supremacia branca, e com o regime ideal das utopias sanitárias.