Lucy à beira-mar
Continuando no tema da pandemia, puxado ontem, devo dizer que acho extraordinária a maneira como este livro me tocou.
Numa escrita sincopada e lisa, quase no osso, Elizabeth Strout leva-nos de novo para os primeiros tempos da pandemia e do isolamento; tão perto e tão longe. Nessa narrativa “como quem não quer a coisa”, nada fica esquecido: o amor, os casamentos, os ex-casamentos, a relação com os filhos adultos e a família, os amigos distantes, os novos encontros, os vizinhos, as grandes e pequenas irritações com o parceiro, as grandes e pequenas mudanças dentro e fora de nós, a morte, o medo, o assalto ao Capitólio, O Black Lives Matter, a pobreza e os que foram deixados para trás -“deploráveis” para Hilary Clinton, mas realmente "os invisíveis" - os apoiantes de Trump e a sua raiva.
É um livro político, no sentido mais lato do termo, de ricos e pobres na América, mas também lá está toda a nossa fragilidade e grandeza, expostas de um modo tão simples que até dói, ou melhor, emociona.
Lucy à Beira-MaR, Elizabeth Strout
Ed Penguin
Tradução de Tânia Ganho