Leitura e liberdade
"Porque é que ler conta, e muito, para a liberdade?
Ler, uma actividade em extinção, por muito que as livrarias estejam cheias de feéricas capas, por muito que se diga a gigantesca asneira de que ler num ecrã de telemóvel é o mesmo que num livro (experimentem a Montanha Mágica ou a Guerra e Paz…), ou que a “geração mais preparada” pode fazer um curso superior sem ler um livro (bem, dois, três e já é muito), e por aí adiante. Falar e escrever bem também estão em extinção, com a redução do vocabulário circulante a pouco mais do que os antigos 140 caracteres do Twitter, agora 280 no X, o que vai dar ao mesmo – a enorme dificuldade de expressão que se vê todos os dias e por todo o lado. Qual é o problema? É que quem não lê, não fala e não escreve decentemente, é menos livre, mais facilmente manipulado, menos eficaz em coisa alguma importante, mais fácil de ser mandado e de não mandar nem em si próprio. Ou seja, repito, menos livre."
Pacheco Pereira, Público, 9 Março 2024