Flashback II
Nas manhãs geadas do Alentejo, e nos primeiros anos de liceu, a minha mais habitual companheira de caminho era mais pobre do que eu. As mãos "engadanhavam" com tanto frio, e ela não tinha luvas. Então, eu emprestava-lhe uma, a da mão direita, que eu podia meter no bolso, pois era com a esquerda que carregava os livros. Ela fazia uso contrário, e ambas ficávamos mais confortáveis.
A infância pode ser cruel sem dar por isso. Pode também ser generosa sem dar por isso.
Tudo nela é livre e sem rótulos. E há ainda muitos conceitos e preceitos que lhe são alheios.
Só em adulta compreendi que existe, em todos nós, mas por pouco tempo, uma forma de generosidade em que o cérebro não participa.