Crimes linguísticos de hoje
A internet, já sabemos, é boa e cruel. As redes sociais são crudelíssimas.
Sabemos? Bem, nem todos.
Veja-se o caso, ontem, do Ministro da Coesão Territorial, Manuel Castro Almeida, homem de 67 anos, que, na televisão, indo para a zona dos fogos, e tendo-lhe sido perguntado quantos dias lá ficaria, respondeu ingenuamente: a minha mulher fez a mala para três dias.
Foi o bastante para cair o Carmo e a Trindade nas redes sociais.
Homens tão feministas que Deus nos livre, e mulheres que olham todos os homens como meros fornecedores tóxicos de esperma, escandalizaram-se uns, divertiram-se outros, e nenhuns pouparam o ministro ao seu sarcasmo ou injúria.
Cada casal tem a sua forma de relacionamento e os casais de hoje são assaz diferentes dos de há 30 ou 40 anos. Mas a expressão "dividir a vida" mudou assim tanto de sentido?
Parece que cumplicidade e entreajuda são palavras riscadas do dicionário dos afectos.
Nunca fiz uma mala de viagem ao meu marido (e ele já fez centenas), mas, se decidisse fazer, isso queria dizer que sou uma mulher submissa e explorada?
E que se diria dele por me tratar dos impostos, coisa que eu muito agradeço?
Tudo isto que penso, não invalida que também pense, e duvide, que um ministro que não percebe patavina do tempo em que vive, e por isso se sujeita a muitas alarvidades ao abrir a boca na televisão, possa dar algum bom contributo para o desenvolvimento do país, e ainda menos para a sua "coesão territorial". Ou outras.