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Última Paragem

O blog do bicho do mato

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Última Paragem

03
Out24

Nós e os outros

Maria J. Lourinho

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Quer-me parecer que, ao longo do último século, não houve família portuguesa que não tivesse algum dos seus membros emigrado.

Brasil, EUA, Venezuela, França, Almanha, Suiça por exemplo, sem falar nas ex-colonias, têm recebido portugueses em séries sucessivas, por via das nossas crises sucessivas.

Quando as vacas estiveram gordas por aqui, nos anos de 1990, também nós recebemos muitíssimos imigrantes oriundos, sobretudo, dos países do leste da Europa. Russos e ucranianos formaram contigentes de homens e mulheres que ajudaram a modernizar o país. Eram academicamente formados mas faziam qualquer trabalho que pudessem fazer. Eram brancos, de olhos azuis, e adoravam o mesmo deus que nós, com pequenas variantes. Gostámos deles.

Na última década, ascendemos a novos-ricos, o que traz até nós centenas de milhar de imigrantes pobres, com poucos estudos, de pele escura e outro Deus.

Aí, salta-nos a tampa, atribuimos-lhes crimes que não cometem, despesas que não são deles e malfeitorias miúdas ou graúdas, conforme o que vem à rede.

Tendemos a acreditar que são eles que nos roubam, e que os banqueiros, ao contrário, são os nossos amigos.

E abrigamos um Ventura, com grande à-vontade, no ovo da serpente.

Mas os portugueses não são racistas, pois não? Ah, pois não!!!

23
Set24

Cabeças

Maria J. Lourinho

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Já todos vimos um bêbado num baile, certo?

A música vai para um lado e ele vai para o outro (geralmente o lado do bar).

Pois, o camarada Paulo Raimundo, pouco se importa com a "música" dos nossos dias - a "música" da direita e da extrema-direita e, em vez de cerrar punhos e dentes contra elas, continua a mandar pontapés para as canelas do PS.

Foi o que o camarada Raimundo aprendeu em pequenino, e isso lhe basta.

Um partido que teve cabeças como Álvaro Cunhal, Barros Moura (conhecido na faculdade por IBM, ou seja, Inteligente Barros Moura), Luís Sá ou João Amaral, entre muitas outras ao longo dos anos, acabou a escolher, para o dirigir no século XXI, uma cabeça... de nabo.

Fico sempre surpreendida com a opção por velhos erros.

22
Set24

Patético

Maria J. Lourinho

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Alguém devia dizer ao primeiro-ministro Montenegro que, para mostrar apoio político à sua ministra da Administração Interna - Margarida Blasco - não precisava de, no funeral dos três bombeiros, a abraçar tão longa e sentidamente como se ela, em vez de ministra, fosse a própria mãe dos bombeiros.

De tão básico, populista e encenado, foi patético.

De tão impúdico, foi imoral. (E deu-me volta ao estômago).

19
Set24

Crimes linguísticos de hoje

Maria J. Lourinho

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A internet, já sabemos, é boa e cruel. As redes sociais são crudelíssimas.

Sabemos? Bem, nem todos.

Veja-se o caso, ontem, do Ministro da Coesão Territorial, Manuel Castro Almeida, homem de 67 anos, que, na televisão, indo para a zona dos fogos, e tendo-lhe sido perguntado quantos dias lá ficaria, respondeu ingenuamente: a minha mulher fez a mala para três dias.

Foi o bastante para cair o Carmo e a Trindade nas redes sociais.

Homens tão feministas que Deus nos livre, e mulheres que olham todos os homens como meros fornecedores tóxicos de esperma, escandalizaram-se uns, divertiram-se outros, e nenhuns pouparam o ministro ao seu sarcasmo ou injúria.

Cada casal tem a sua forma de relacionamento e os casais de hoje são assaz diferentes dos de há 30 ou 40 anos. Mas a expressão "dividir a vida" mudou assim tanto de sentido?

Parece que cumplicidade e entreajuda são palavras riscadas do dicionário dos afectos. 

Nunca fiz uma mala de viagem ao meu marido (e ele já fez centenas), mas, se decidisse fazer, isso queria dizer que sou uma mulher submissa e explorada?

E que se diria dele por me tratar dos impostos, coisa que eu muito agradeço?

Tudo isto que penso, não invalida que também pense, e duvide, que um ministro que não percebe patavina do tempo em que vive, e por isso se sujeita a muitas alarvidades ao abrir a boca na televisão, possa dar algum bom contributo para o desenvolvimento do país, e ainda menos para a sua "coesão territorial". Ou outras.

13
Set24

Léxico

Maria J. Lourinho

 

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Foto Masao Yamamoto

"...aquela que por milénios foi a singela palavra "mulher", tornou-se um dos termos mais explosivos do nosso tempo. Inúmeras pessoas (e até publicações científicas como a Lancet) evitam-na cuidadosamente, preferindo termos como "pessoas que menstruam", ou "que têm colo do útero" ou "pessoas alimentadoras de peito", tudo para não ofender 0,5% da população mundial chamada de transgénero."

"O Cancelamento do Ocidente", Paulo Nogueira

Ed. Guerra e Paz

Estou de acordo que há pessoas que menstruam e não se sentem mulheres, sei disso, mas cá por mim, 

gostava de morrer como nasci - MULHER, simplesmente.

Pergunto-me se isso já será pedir muito...

11
Set24

Decoração de exterior

Maria J. Lourinho

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Tribo mursi, Etiópia

Neste tempo de pouca roupa, observei, com curiosidade, a hiperdecoração dos corpos que me passavam diante dos olhos.

Tatuagens grandes, pequenas, médias, de (quase) corpo inteiro,  ou as que quase só nos espreitam de algum local mais recôndito, pestanas postiças que parecem leques, lábios com micropigmentação que lembram corações adoentados e sobrancelhas tão feitas a régua e esquadro  que mais parecem um trabalho saído duma aula de geometria.

Porém, o meu maior espanto sempre aconteceu com as unhas - enormes, com decorações singelas ou bizarras são, em ambos os casos, elementos externos que dificultam o bom desempenho das mãos.

Nesta era cada vez mais digital, as mulheres ficam com dificuldade em digitar. Não é estranha a opção?

A continuar assim a moda, ainda chegaremos aos hábitos dos nativos africanos que metiam discos no lábio inferior, como o da imagem. Nunca percebi como falavam ou comiam, o que me causava infantil aflição quando via as imagens da colecção de cromos "Raças Humanas".

Excessiva, feia, antinatural, kitsch, assim é a moda feminina deste final de quarto de século.

Felizmente, agora, a moda também é o que cada uma de nós quiser. Para mim, ninguém definiu melhor elegância que o designer Armani.

Perguntado o que é para ele uma mulher elegante, respondeu: é aquela que, quando entra numa sala, ninguém dá por ela mas, quando sai, toda a gente pergunta quem era aquela mulher.

Procurei sempre fazer da opinião de Armani uma norma de vida. Mas já não se usa, eu sei.

 

08
Set24

Muito bem, Catarina

Maria J. Lourinho

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"O processo de fundação de um novo partido europeu está em curso. O Bloco de Esquerda desarticulou-se da família da Esquerda Europeia, para se articular com o que considera ser uma nova esquerda verde e feminista. Catarina Martins é co-presidente da ELA, a nova Aliança de Esquerda Europeia pelo Povo e pelo Planeta, juntamente com Malin Björk, do Partido de Esquerda sueco. A secretária-geral e tesoureira também são mulheres. Em português, o acrónimo ELA assenta como uma luva. Para já, são uma associação política de sete partidos, incluindo a França Insubmissa, o espanhol Podemos e o Razem polaco, mas esperam crescer e aguardam pela autorização para ser partido pan-europeu.

"A Esquerda tem uma responsabilidade que é perceber onde é que estão as lutas comuns que podem dar força a uma alternativa na Europa. As lutas do trabalho, uma postura feminista perante o mundo e as questões ambientais, climáticas, juntam-nos", diz Catarina Martins ao Expresso."

Muito bem, Catarina. Ainda não teve tempo de conhecer os cantos à casa e já a está a desarrumar.

E faz bem, porque o que o mundo e a Europa mais precisam neste momento é de dividir ainda mais os partidos de esquerda face ao fortalecimento da extrema direita.

Esta gente não estudou história nem aprende nada; pensa em inovar, não vão os povos estar fartos deles, tal e qual como a McDonald's. E sai pastel de bacalhau com queijo.

Intragável!

 

06
Set24

Fisicalidade

Maria J. Lourinho

original.webpHá meia dúzia de anos, deixei de comprar o Expresso e passei a lê-lo online através de uma assinatura.

Ontem, li que o jornal tem um novo formato, ligeiramente diferente, e trazia um novo caderno - Ideias.

De repente, bateu-me uma enorme vontade de voltar a ver o jornal em papel, e comprei-o.

Foi como aqueles jantares de comemoração de 5 anos do fim do curso - ai que saudades tinha de te ver, o que fazes?, estás na mesma!!!

Estava eu a interrogar-me de onde viria toda esta parvoíce, quando no tal novo caderno - Ideias - a  escritora Isabela Figueiredo escreve a propósito dos supostos encontros tipo Tinder nos supermercados Mercadona:

"A fisicalidade, o medo e o risco fazem parte do jogo de sedução e das emoções que lhe dão sentido. O que subjaz a tudo isto é uma enorme vontade de regressar ao lado menos domesticado das relações, quase desaparecido na contemporaneidade politicamente correta. Onde há muita civilização há muita frustração. Queremos o velho romance cara a cara que entrou em desuso com a internet. Sonhamos com a presença do outro. Estamos fartos de nudes por WhatsApp."

A minha relação com o Expresso é meramente pragmática, mas isso não quer dizer que, de quando em vez, não ganhe com um pouco de fisicalidade também.

Foi bom, mas agora...adeus.

Nota: vou guardar este jornal como um bem valioso. Já muitas vezes tinha pensado que nesta casa não havia uma única folha de jornal, e todos sabemos como elas às vezes dão jeito...!

02
Set24

Kamala

Maria J. Lourinho

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Podia até ser o Pato Donald que, para mim, desde que enfrentasse o outo Donald, com coragem e dignidade, já mereceria o meu respeito.

Acontece que é uma mulher, Kamala Harris, e que, também por isso, vai ouvir os piores insultos enquanto defende os direitos fundamentais que orientam a convivência na sociedade em que costumamos viver.

E ela trouxe uma gargalhada e um pouco mais de esperança e de civilidade.

Não sou tomada por hesitações, como o Hugo Soares do PSD, nem me assiste a indiferença, como ao PCP.

Gostemos ou não, as eleições americanas influenciam muito a nossa vida; por isso, Kamala, respect!, e livra-nos do  "esquisito".

 

28
Ago24

Vemos, ouvimos e pensamos

Maria J. Lourinho

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Este par de jornalistas da CNN estava em directo no momento do sismo. Era madrugada e não os vi no momento, mas vi-os depois, quando o canal repetidamente os mostrou. A jornalista, como todos vimos, só pestanejou, e o jornalista olhou para o lado.

De início, pensei - que profissionalismo, mas sentia algum desconforto que não percebia. Até que finalmente percebi.

Ser profissional de televisão, num momento de perigo,  é ficar como estátua de cera como se nada estivesse a acontecer? Não, não é.  

Ser profissional de televisão, num momento de perigo, é, antes de mais ser humano, procurar o outro e o seu  olhar, para nele confirmar que há perigo, mas não estamos sós.

Coisas que se vão perdendo à conta do famoso "mérito".

26
Ago24

Terão medo de quê, eles?

Maria J. Lourinho

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 Notícias do inferno:
 
"No documento, composto por mais de 100 páginas e 35 artigos, como descrito pelo El País, as mulheres são também proibidas de usar cosméticos ou perfumes, com o objetivo último de as impedir de imitar “o estilo das mulheres não muçulmanas”.⁠

Uma das medidas mais severas consiste em impedir o som da voz das mulheres em público, incluindo os atos de cantar, recitar ou falar para um microfone. Estão mesmo proibidas de olhar para homens que não sejam seus familiares.⁠

De acordo com Mohammad Khalid Hanafi, ministro com a pasta da Virtude e dos Vícios, a aplicação da Shari’a [lei islâmica] e do hijab é linha vermelha para os dirigentes talibãs. “Não podemos negociar com ninguém sobre estes assuntos”, garantiu.⁠"
 
Jornal Observador
 
Sem comentários!

 

24
Ago24

Ainda que mal pergunte

Maria J. Lourinho

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Num dia desta semana, o telejornal da noite da RTP3 ofereceu um belo tempo de propaganda a uma criatura com uma alta patente israelita. Vinha fardado e tudo, falava português do Brasil, e gastou todo tempo a divulgar mais uma vez a cartilha de Netanyahu, do tipo - temos que bombardear escolas porque os terroristas escondem-se lá - e eu tive muita pena que a jornalista não lhe tivesse perguntado: ó seu grande animal, então se um terrorista entrar na escola do seu filho, quando ele está na aula, a solução para o problema é bombardear a escola?

Mas não, a Maria continuou sereníssima.

22
Ago24

O que é que você faria?

Maria J. Lourinho

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O que é que você faria, em dois minutos, para salvar o planeta?, pergunta-me o anúncio.

A minha resposta podia ser tola mas era rápida: proibia os cruzeiros!

Os cruzeiros, que são agora muitíssimos e sempre cheios de gente - classe média com poder de compra e preocupações ambientais (!!!), são a pior praga dos mares, a meu ver.

Quando olho para aqueles barcos mostruosos, não consigo deixar de ter sempre os mesmos pensamentos:

Quantas garrafas de vidro, quantos ossos de costeletas, quanta casca da batata, quantos pensos higiénicos, quanto cocó, quanto xixi com cocaína, quantos preservativos, quantos sacos de plástico, quanta água do banho com seus sabões, e por aí afora?

São hotéis flutuantes que, apesar de existirem regras (que serão cumpridas, ou não), são bastante permissivas.

Veja-se: "De acordo com a norma, é proibido lançar ao mar qualquer tipo de plástico. Porém, restos de comida, papeis, vidros, metais e louças podem ser descartados livremente a uma distância mínima de 12 milhas náuticas da terra mais próxima." 

Os armadores buscam o lucro, como é normal, os passageiros trabalham afincadamente durante as férias para a destruição da nossa casa comum.

O oceano também é meu e, sobretudo, por si só e pela vida nele existente, merece respeito.

Se eu mandasse, em dois minutos já não havia cruzeiros.

10
Ago24

Pichardo

Maria J. Lourinho

 

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Ó Pichardo, que chato que és, caramba!!

Faz-te à vida, rapaz!

 

(Precisamos de apoiar mais o desporto, sem dúvida, mas também precisamos de apoiar mais as crianças e os velhos, fazer casas, pagar melhor a médicos, professores, enfermeiros, ténicos de saúde, polícias, e bombeiros, cuidar da floresta, dos agricultores, dos estudantes pobres, dos transportes públicos etc.

Precisamos de quase tudo, meu!)

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