Serotonina XXV
Bom fim de semana.
Luz não nos faltará
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Bom fim de semana.
Luz não nos faltará
Deixei de fumar há 10 anos e sinto-me legitimada para considerar que a nova lei do tabaco é uma lei repressiva e lesiva das liberdades do cidadão.
Já nem falo da impossibilidade de fumar onde quer que seja, falo da impossibilidade de comprar tabaco.
O governo acha que o país é "a discoteca, as piscinas e parques aquáticos, salas e recintos de espectáculos e diversão, casinos, bingos e outras salas de jogo, ou festivais de música", locais onde deixa de ser possível comprar tabaco, e que se juntam agora a TODOS os locais onde já era proibido fumar (cafés, por exemplo).
E eu penso nas aldeias perdidas deste país, habitadas por velhos que toda a vida fumaram, e que já não poderão comprar os cigarros no café da aldeia. Mais perto deles, só talvez a bomba de gasolina.
Mas, falando do que conheço melhor, o Alentejo, tento lembrar-me se, por exemplo, Montoito, Vendinha, Foros do Queimado, Terena, Juromenha, e tantas outras aldeias terão uma bomba de gasolina. E, no caso de terem, quantas centenas de metros as velhas pernas terão de percorrer para aceder ao (talvez) único prazer que resta?
Não há médico, não há farmácia, não há banco, não há correios e agora não há tabaco. Este, na prática, em grande parte do país, está proibido.
Estamos todos a ver o que vai acontecer, não estamos?
Nota prévia: eu não quero transformar este blogue numa compilação de Crónicas de Escárnio e Maldizer mas, como diz o povo, "as coisas são o que são" e "dos felizes não reza a história". Portanto, lá vai.
O título deste post vampiriza o título de um grande livro de um grande escritor - SE ISTO É UM HOMEM, de Pimo Levi, mas foi a frase que me veio à cabeça quando li, no Instagram da Bertrand Livreiros, um post com o seguinte texto:
"Gostei de colocar a hipótese de os livros serem como bichos. Isso faz deles o que sempre suspeitei: os livros são objectos cardíacos. Pulsam, mudam, têm intenções, prestam atenção. Lidos profundamente, eles estão incrivelmente vivos. Escolhem leitores e entregam mais a uns do que a outros. Têm uma preferência. São inteligentes e reconhecem a inteligência."
valter hugo mãe, in Contos de cães e maus lobos
E pergunto-me: como se pode escrever tanta parvoíce, tanta vacuídade e ter o beneplácito do meio?
O que são objectos cardíacos? Os livros escolhem os leitores como? a olho? Se eu e o valter escolhermos o mesmo livro ele "entrega" mais ao valter do que a mim? O que posso fazer para ele me "entregar" mais do que ao valter? Ando à briga com o valter? E o que é isso da "entrega"? é dos CTT Expresso? E se o livro não me achar inteligente? O livro tem preferência assim como, por exemplo, eu prefirir o pastel de nata sem canela, é isso?
Esta escrita não é só uma mão cheia de nada. Entra já no reino do absurdo.
Costumo dizer que mais vale ler livros maus do que não ler nada. O valter deixa-me a milímetros de mudar de opinião.
(Notícia Público de ontem)
Desde que apareceu no espectro partidário português, o PAN sempre fez questão de viver em cima do muro, isto é, sempre afirmou não ser de esquerda nem de direita, coisa mais ou menos incompreensível para mim.
Agora, finalmente o PAN saltou do muro. Talvez se tenha sujado ao saltar, não sei, e também não sei o que lhe prometeram em troca.
É lá com eles, mas fazem bem em aproveitar o seu minuto de fama porque, e aqui vaticino:
- cedo o lobo comerá o cordeiro.
- nas próximas eleições nacionais o PAN desaparecerá do mapa, do muro e da nossa memória.
Durante a visita de Zelensky ao parlamento do Canadá, o lider deste orgão pediu uma ovação para a um antigo combatente ucraniano da II Guerra Mundial , que tinha convidado para estar presente. E o velho homem teve a sua ovação de pé. Acontece que logo de seguida, organizações judaicas do país alertaram para o facto de o "herói", para combater os comunistas durante a Guerra, ter integrado uma milícia nazi, objectivamente aliada de Hitler, e que não era meiga com russo e judeus.
Reposta a verdade, o parlamento pediu desculpa e a organização judaica denunciante afirmou certeira:
"Em próximas oportunidades, as pessoas têm de ser muito mais cuidadosas com as figuras a que se associam quando manifestam o seu apoio e solidariedade à causa justa da Ucrânia". (Público)
Todos cometemos erros, mas certo é que, como este, que resulta da falta de rigor na investigação dos factos, cada vez os encontramos em maior número.
Rigor, como substantivo que nos acompanhava e nos era exigido, caíu em desuso.
Será a pressa? Será esta vida atabalhoada a única possível num tempo sempre em aceleração?
Talvez. Mas se a questão é tempo (ou a falta dele), não creio que se ganhe algum; antes se perde ainda mais com as "revisões" tardias que é preciso fazer a cada momento.
Ontem, na Madeira, Luís Montenegro disse: " “Não vamos governar nem a Madeira nem o país com o apoio do Chega.” Porque não precisamos, acrescentou.
Depreende-se que, se não vão aliar-se ao Chega não é porque um partido como o PSD não faz alianças com a extrema-direita, é apenas porque, de momento, não precisa.
Fica o aviso para quem o quiser ouvir.
Fim de estação
Créditos. @voyage_provocateur
Jardim Gulbenkian
"Acho que envelhecer é um trabalho duro, pesado, sem qualquer charme e com jornadas muito longas"
O que Ingmar Bergman disse à sua filha Linn Ullmann em entrevista que consta no livro da mesma, "Os Inquietos"
Edições Relógio D'Água
Há já um bom par de anos que oiço podcasts. Comecei com os que falam de livros, na sua grande maioria fracos e infantis, e fui descobrindo outros sobre, praticamente, todos os assuntos.
Há grandes conversadores e grandes entrevistadores; as mesmas categorias podem encontrar-se em versão "grandes nabos".
Mas, enfim, a gente vai escolhendo. Até chegar ao ponto em que me encontro, isto é, a oferta é tanta que já nem sei o que escolher. Pode-se afirmar que não há, neste país, bicho-careto que não tenha um podcast.
Caso para relembrar a velha sentença:
Onde m--- um português...etc e tal, todos sabemos o resto.
Julgo que em breve deixarei "o ramo" por excesso de oferta. Porém, atrevo-me a deixar aqui a referência ao podcast da Rádio Observador (mas que eu oiço no Spotify) - Ao Encontro da Beleza - do Martim Sousa Tavares.
Que grande comunicador.
Era uma vez uma cliente de café Delta (eu) que resolveu substituir a sua máquina doméstica, que andava a encravar as cápsulas.
Comprei online no site da Delta. A máquina chegou, foi recebida por outra pessoa, e verifiquei depois que a factura vinha em nome de um senhor que nada tinha a ver comigo ou alguém da minha família.
Levei um mês exacto a tentar corrigir a situação.
Passados 4 meses de uso, a nova máquina começa a ter o mesmo problema que a antiga, mas agora agravado porque encrava sempre.
Começa a peregrinação atrás da Delta. Dois emails sem resposta. Vários telefonemas para o apoio ao cliente sem nunca conseguir ser atendida.
Por portas travessas de outros números Delta, ontem consegui chegar ao apoio técnico. Atendida por uma prestimosa senhora, acedi a tentar resolver o problema remotamente, o que não passou de algumas manobras de deita a água fora, abre a alavanca, carrega em 2 botões etc. No fim, a cápsula não encravou mas, depois do jantar, para tirar cafezinho, voltou tudo à mesma.
Hoje voltei a ligar. Primeiro levei uma reprimenda porque não era aquele o número que devia ligar. Depois fui informada que amanhã vêm buscar a máquina para arranjar e que entregam uma semana depois.
Perguntados se traziam máquina de substituição, responderam que isso era dantes, agora é só uma semana para arranjar (depreendo eu...”o cliente que se amanhe”)
Perguntei se no dia da entrega me podiam avisar da hora provável de entrega. Que sim, mas se calhar já não seria só uma semana.
Por fim pedem-me que entregue a máquina sem acessórios dentro de um saco de plástico e depois dentro de uma caixa de cartão.
Respondi que saco de plástico, tudo bem, caixa de cartão não tinha nem ia pedir.
Resposta: mas pode comprar.
Resposta: mas não vou comprar.
Resposta: então o transportador levará uma caixa branca.
A Delta era exemplar.
Era! Agora, parece um serviço do Estado. E até há alguns que são melhores que isto.
Era uma vez vez um homem, Clóvis Abreu, suspeito de assassinar um jovem polícia à porta de uma discoteca.
O homem andava fugido há ano e meio.
Quis-se entregar e ser ouvido no passado sábado, mas a juíza disse-lhe que não dava jeito nenhum e que voltasse na segunda-feira.
E o Clóvis voltou.
Tenho muito orgulho no meu país.
Bom domingo
Quantas de nós tivemos, temos, ou fomos educada por uma mãe autoritária, ansiosa, preconceituosa, muitas vezes infeliz e também muitas vezes agreste na relação com as suas filhas (mas não com os seus filhos homens), que nos vai moldadndo a personalidade e o futuro.
Uma mãe que dispara à queima roupa, por exemplo,: estás gorda, ou, mais docemente, tens o rabinho maior, não gosto nada dessa roupa, a saia está curta demais, esse penteado fica-te mal, estudar fora para quê? Aqui não serve à menina?
E, no meio de isto tudo, há um amor incondicional de ambas as partes. Indestrutível.
São Vínculos Ferozes.
E, Vínculos Ferozes, é precisamente o título deste livro de Vivian Gormick, judia americana, nascida em Nova Iorque em 1935.
Escreveu ensaios, memórias romances, foi professora e jornalista e é um nome incontornável do feminismo.
Escreveu este livro em 1987, sem grande sucesso. Nele, desfia memórias do seu crescimento no Bronx, onde nasceu, e da sua vida com a mãe, enquanto ambas, uma madura e outra maduríssima, uma viúva e outra divorciada, fazem caminhadas pelas ruas de Manhattan. Os comportamentos não se alteraram com o passar dos anos, de tal modo que a autora chega a escrever:
“Uma de nós vai morrer deste vínculo”
O livro foi recentemente descoberto pelo movimento MeToo e alcançou grande êxito.
Depois disso, Vivian Gormick ficou rica, e numa entrevista ao jornal brasileiro O Globo, afirma:
- Eu preciso te contar: mais do que as reedições e todo este fuzuê, o que me tira mesmo do sério é ter, a esta altura da vida, ficado rica. Como sempre vivi na falta dele, não sei o que fazer com dinheiro. É muito tarde, aos 88 anos, pra mudar meu estilo de vida, mas já pego táxi quando chove e não preciso mais escolher o prato mais barato do cardápio.
E eu não preciso de saber física quântica ou discutir filosofia, embora gostasse, porque, na verdade, são as pessoas assim, com quem convivo nos livros, que fazem os meus dias.
...e ainda bem.
Verdade que eu também estou a ficar muito velha 😀.
Legenda da imagem:
Foto de anúncio de casamento (segundo casamento) da princesa Marta Luísa da Noruega, filha do rei Haroldo V e da rainha Sonia.
Mou Aysha é uma fotografa do Bangladesh que viaja pelo seu país à prucura da beleza, sobretudo das mulheres.
Alguns dos seus retratos podem ser vistos aqui.
Ou aqui.
Se ficardes sem respiração, como eu, tanto melhor.
A queda das torres em Nova Iorque foi de tal modo marcante na nossa vida de ocidentais, que todos nos lembramos de onde estávamos e o que estávamos a fazer quando os aviões nelas embateram.; mesmo 22 anos depois.
Um dia terrível.
Dizem-nos que a luta de classes acabou, que somos todos "colaboradores" uns dos outros. Nada mais falso.
Ela está viva, sem gritos, punhos erguidos ou pancadaria (excepto em França, claro), mas viva.
É surda porque vive e cresce em surdina, parece mansa mas tem a raiva de sempre, e pode ser agressiva. este livro aí está para contar tudo isso.
E recomenda-se.