Zangada estou!
Muitas vezes na minha vida vivi indignada, mas hoje não é isso que sinto. Estou zangada, mesmo zangada, com uma fúria primária e animalesca, daquelas que só as mães, racionais ou irracionais, podem sentir.
Também poucas vezes vi tanta unanimidade na sociedade portuguesa, e a enorme discussão que a atravessa é muito saudável.
Parece que estamos todos de acordo : alguns membros da Igreja Católica cometeram crimes horríveis de abuso sexual sobre crianças à sua guarda, os bispos tentaram sempre varrer o assunto para debaixo do tapete e a resposta ao trabalho da comissão independente que investigou os abusos é, no mínimo, decepcionante.
Desqualifica e desrespeita a comissão, as pessoas que a integravam, a sua seriedade e qualidade profissional, bem como os abusados que prestaram depoimento, as suas famílias e a sua dor.
Os bispos desconfiam do que ouviram, querem fazer a sua própria investigação e confirmação, e nem sequer vão afastar preventiva e temporariamente os padres acusados que ainda estão no activo.
Talvez se preparem também para, arrefecido o assunto, processarem alguns abusados por difamação; quem sabe o que ainda pode sair daquelas metistofélicas cabeças.
Sou ateia convicta, mas acredito que muitos crentes sentem a mesma zanga que eu. E o resultado de sucessivas zangas, cada vez mais evidente, é o surgimento de seitas de toda a espécie, capitaneadas por charlatães, cada um mais perigoso que o outro que, subrepticiamente, estão chegando à política que nos governa e governará a todos.
Percebo os crentes que procuram outras Igrejas. Hoje a Igreja Católica cheira a podre, cheira tão mal que não se aguenta.
E, em Portugal 2023, passou a ser mais um problema, uma fonte de descrença e insegurança, tudo o contrário daquilo que devia ser.