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Última Paragem

O blog do bicho do mato

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Última Paragem

28
Fev23

Uma jornada feliz

Maria J. Lourinho

Fui ao Corte Inglés comprar bens de terceira ou quarta necessidade.

Comecei por cima, à procura dum comando universal de TV. Seria universal mas não me garantiam que desse para a televisão. Não trouxe.

Desci um pouco para comprar filtros para o jarro da água. Não havia nem um.

Na para-farmácia procurei escova de dentes da marca que costumo usar. Não havia.

Também procurei pastilhas de ervas Ricola de caramelo. Não havia

Mais abaixo ainda, procurei esferográfica com borracha na ponta para clicar em jogos no tablet, a fim de poupar o dedo velhote da minha mãe. Não havia.

Chamo a isto, uma jornada feliz.

Vejo também que:

Os comboios não andam

Os professores não dão aulas.

As maternidades fecham.

Habitação não há.

Os preços sobem mais pela especulação que pela inflação.

Aposto que na próxima avaliação da felicidade dos povos, dinamarquesees e finlandeses vão-se evaporar. A felicidade está aqui.

Felizes somos nós.  E pacientes, também.

24
Fev23

Pulha, palavra em desuso

Maria J. Lourinho

Captura de Ecrã (12).jpg 2.jpg

Era uma vez um plebeu andebolista, alto e bem apessoado, de seu nome Iñaki Urdangarín , que encontrou uma princesa espanhola chamada Cristina. Esta, apaixonou-se perdidamente pelo andebolista. Acontece!

O plebeu, não lhe bastando as mordomias próprias de quem é genro de rei, meteu-se a ser corrupto e foi preso, quase arrastando consigo a princesa; se calhar, só não conseguiu por ela ser isso mesmo – princesa.

O amor da princesa revelou-se duma fidelidade canina. Ela nunca deixou de o visitar na prisão, ela nunca se quis divorciar.

Cumprida a pena, ou parte dela, Urdangarín “voltou às lides” mas sem princesa.

Quis mudar de ares (depois de tanto tempo com o ar rarefeito da prisão), e exibiu-se com outras companhias, como quem diz: Cristina, tu não vês que me borrifo para ti e para tudo o que fizeste, palerma?. Ela respondeu, não não vejo!!!!

Foi preciso insistir, antes que a princesa se tornasse motivo de escárnio e humilhação.

Agora ela já aceita o divórcio e, diz-se que a conselho do pai, aquele grande homem de moral impoluta que destas questões dos homens sabe bastante, vai pagar ao Iñaki uma pensão de seis mil euros por mês, que ele aceita para ficar caladinho (sempre lhe dará para o after shave), para além das viagens entre a Suíça e Barcelona, que também suportará.”

A princesa será uma santinha? Não creio, mas, mesmo assim, deve estar muito furos acima do PULHA (ver definição acima) por quem teve a infelicidade de se apaixonar.

E paixões, como se sabe, sempre foram fonte de grandes desgraças, tanto na nobreza como no povo.

É melhor fugir delas mas, caramba, ao menos uma vez na vida deixemo-nos apanhar.

23
Fev23

Absurdo

Maria J. Lourinho

Às vezes tenho pensamentos que até a mim me parecem absurdos.

Desta vez, quer-me parecer que a comunicação social anda há uma semana a CELEBRAR o primeiro aniversário da guerra na Ucrânia, e a desejar que a Rússia, amanhã, o celebre também com grande "fogo de artifício". 

Pode lá ser!

Por causas destes abursos pensamentos, tenho ganas de ralhar a mim própria. Ai, ai, ai.

22
Fev23

Assim gosto

Maria J. Lourinho

Captura de ecrã_.jpg

António Lacerda Sales, médico ortopedista, foi Secretário de Estado da Saúde durante toda a pandemia. 

"Aguentou-se à bronca" sempre calmo e sensato, mas não deve ter sido fácil porque, além do momento sanitariamente complexo, ainda tinha no caminho a dupla Temido e Freitas.

Vi-o agora partir numa missão humanitária para São Tomé e Príncipe, para operar e levar outras ajudas.

É sempre com grande admiração (talvez por ser tão raro), que vejo alguém que teve funções políticas importantes, voltar à sua vida profissional tão distante da política partidária (porque política é tudo na vida).

Estamos muito habituados à porta giratória entre política, empresas, e escritórios de advogados.

Não estamos nada habituados a missões humanitárias. Daí o meu agrado e respeito para com Lacerda Sales.

20
Fev23

Não somos totós, Carlos Moedas

Maria J. Lourinho

A propósito dos recentes e infelizes acontecimentos com imigrantes, Carlos Moedas arrebitou-se contra Marcelo, que chamou a atenção para o fraseado do PSD sobre o tema, que o aproxima do Chega, arrebitou-se, dizia eu, afirmando “eu fui emigrante”, blá, blá, ”não aceito lições de ninguém nesta matéria, de ninguém”.

Este pobre emigrante, teve como árduos trabalhos fora de Portugal, entre outros, o da Goldman Sachs e o do Deutsche Bank.

Parece, portanto, que Carlos Moedas está a gozar connosco, porque o senhor presidente não foi emigrante coisa nenhuma, foi expatriado.

A diferença entre emigrantes e expatriados é tão grande que os torna quase opostos.

Emigrante todos sabemos o que é, dada a nossa experiência de décadas – vida dura, cheia de sacrifícios e humilhações, longe de casa e da família.

Já expatriado é alguém, geralmente um profissional qualificado, que vive fora do seu país, ou porque o seu empregador lhe propôs trabalhar para a empresa mas fora, sendo bem pago, ou, como foi o caso de Moedas, porque ele próprio quis uma carreira internacional e para isso se preparou academicamente, recebendo em troca um chorudo ordenado.

Moedas foi tanto emigrante como Horta Osório ou António Damásio, por exemplo - são expatriados, apenas. E bem pagos.

Vidas de emigrantes e expatriados não têm nada a ver umas com as outras.

Por isso, ouvir aquela conversa levou-me a um Moedas, que ainda conheço mal, mas que não me pareceu  muito sério intelectualmente e que, ainda por cima, também não acredita lá muito na inteligência dos portugueses.

17
Fev23

Mais fácil que tirar o passaporte

Maria J. Lourinho

Adam Graham violou duas mulheres. Mudou de nome e de roupa, passou a usar uma peruca e apresentou-se no tribunal como Isla Bryson, mulher trans. O juiz dirigiu-se ao violador como “Sra. Bryson”, enviando-o para uma prisão feminina.”

Este pequeno excerto foi retirado do longo texto de Daniel Oliveira, ontem, no Expresso online.

A história de Adam Graham passou-se na Escócia e, em boa medida, levou à queda recente da primeira-ministra socialista.

As políticas de identidade levadas ao limite, estão a deixar as nossas sociedades ocidentais também nos limites da própria sanidade.

Na Escócia, segundo a lei da autodeterminação da identidade e expressão de género,basta uma pessoa declarar-se, a qualquer momento e sem qualquer condição, de outro género para isso ter efeito legal.” Ou seja, eu sou mulher, mas se amanhã me sentir homem, mudo de nome e aspecto, passo a ser homem e todos me devem tratar como tal. Pronto! Mais simples é impossível (em Portugal é mais complicado tirar o passaporte).

Voltando ao pensamento do cronista, que faço meu, dá vontade de perguntar:

E se a esquerda política, sem deixar de apoiar as reais dificuldades de todas as minorias, voltasse à luta pelos mais fracos, por quem trabalha e é pobre, nunca tirando os olhos das graves questões sociais que perpassam toda a Europa e se deixasse de me****?

Nota: este artigo do Expresso é exclusivo para assinantes, daí não haver link

15
Fev23

Eu acreditei no Pai Natal

Maria J. Lourinho

No jornal Público de 9/02/2023, li um artigo sobre as condições de trabalho dos trabalhadores do Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia da Fundação EDP.

Leio:

Jornadas de trabalho de nove horas em pé, 15 minutos de pausa para almoço, "assédio laboral", cortes nos horários e nos rendimentos, uma equipa de 24 pessoas "a falsos recibos verdes". 

Muitos destes trabalhadores são estudantes, que trabalham para pagar os estudos.

Quando internamente fizeram algumas reivindicações, ouviram:

‘Vejam lá, porque se continuarem a fazer isto cortamos os vossos horários para metade, e assim já não têm razões para pedir cadeiras e pausas de almoço'”, aponta Marta Antunes.

Pedir uma cadeira, como acontece em qualquer museu do mundo, e uma pausa para almoço, é ser dum perigoso extremismo, é um pedido estapafúrdio para estes (ir)responsáveis - a responsabilidade social das empresas é "cena que não lhes assiste".

Passa-se isto numa empresa que só nos primeiros nove meses de 2022 teve 518 milhões de lucro, que criou uma fundação que tem muito dinheiro e construiu aquele espaventoso e caríssimo edifício à beira-rio.

Nada contra o lucro e o edifício (que é belo), tudo contra os comportamentos de quem exerce o seu pequeno poder de modo vil e mesquinho.

Eu ainda sou do tempo em que acreditámos que o país havia de ser justo e com tendência igualitária. 

Um bocado antes, também acreditei no Pai Natal.

Artigo do jornal aqui

13
Fev23

Que me envergonha

Maria J. Lourinho

 

 

791720.jpg

Esta "belíssima obra de arte", que me envergonha, está agora em Belém. É uma homenagem ao trabalho dos médicos durante a pandemia, foi paga pela Ordem dos Médicos e tem por autor um artista autodidata. 

Tudo aqui é lamentável. O conjunto é medonho, e  a Ordem dos Médicos  em vez de se autoglorificar podia juntar-se com outros representantes de outros técnicos de saúde, que não ficaram atrás dos médicos com o seu trabalho e dedicação, para em conjunto fazerem alguma coisa de jeito.

Temos escultores profissionais, muitos com carreira internacional,  que podiam pensar e executar uma obra digna, mas não. É tudo bacoco, triste, foleiro.

E quem é que, em meu nome, autorizou este atentado à estética com uma plantação de cabeças de 3 metros de altura em Belém? A Câmara, claro.

Um grupo de políticos poucochinhos que não se apercebe, sequer, que se deve rodear de gente que saiba pensar a cidade, só pode fazer isto: uma grande bosta, uma e outra vez. Muitas vezes. Habituemo-nos.

11
Fev23

Haja saúde

Maria J. Lourinho

Nas nossas sociedades abastadas, há a uma obsessão com os rastreios.

Os nosso velhos têm reformas ridículas, mas podem passar os últimos anos de vida a correr para os médicos para tratar do que precisam, (com grande espera) e do que talvez venham a precisar (rápido e oferecido), por via dos rasteios.

Com tanto tempo ocupado em paragens de autocarro, recolhas, furinhos e espreitadelas, os idosos perdem um pouco mais de qualidade de vida nos dias que lhes restam, mas sempre podem acalentar a esperança de morrer saudáveis. Oxalá!

10
Fev23

Revisitação do absurdo

Maria J. Lourinho

Ontem, um familiar próximo, bem cedinho, dirigiu-se ao Hospital de Santa Maria, carregando a urina de todo o dia anterior, para fazer umas análises previamente marcadas.

Bateu com o nariz na porta, e não havia nenhuma explicação à vista; apenas um segurança imprestável, como de costume.

Era mais uma greve dos enfermeiros.

Outro cidadão próximo tinha comprado bilhete de comboio para o Porto mas teve de ir de autocarro.

Era mais uma greve da CP.

Para fazer o passaporte, eu, depois de muitas voltas, consegui um agendamento para daqui a dois meses, numa loja do cidadão lá bem despontada.

No telejornal vejo mais não sei quantas greves, protestos e trabalhadores na rua. Nada contra, só que os ministros dizem-nos que reduzimos a dívida, o défice, e crescemos mais do que o esperado.

Foi então que me lembrei duma frase, que ficou célebre, dita por Luís Montenegro em 2014, quando ele era líder parlamentar da troika (agora voltou com mais responsabilidades).

Disse o homem: “A vida das pessoas não está melhor mas o país está muito melhor".

Parece que Costa nos poderia dizer as mesmíssimas absurdas palavras. Só precisava de ter ainda um bocadinho mais lata do que a que lhe conhecemos.

09
Fev23

Abençoada zaragata

Maria J. Lourinho

Já aqui falei do podcast da Antena 1, Biblioteca Pública, que existiu durante todo o ano de 2022. Continuo a ouvir, durante as minhas caminhadas, Dulce Maria Cardoso, Afonso Reis Cabral e Richard Zimmler, a falar sobre cada livro escolhido semanalmente.

Há dias, escolhi para ouvir o episódio sobre uma novela de Tolstói - A Sonata de Kreutzer, que nunca tinha lido. Sabia apenas que era, a par de A Morte de Ivan Ilich, uma das suas novelas mais conhecidas, e que era bastante controversa.

No podcast, gerou-se, entre os três participantes, uma civilizadíssima zaragata, deixando-me ficar claro como a obra era, de facto, controversa, e possível de variadas leituras.

Decidi, então, que era tempo de ler a Sonata de Kreutzer. Descarreguei-a em pdf  para o meu computador por zero euros, li-a, e fiz a minha própria interpretação, que também não coincide exactamente com nenhuma das outras três.

Por fim, resolvi ouvir a sonata de Beethoven. Fui ao Youtube, escolhi  uma versão mais ou menos ao acaso e ouvi.

Admirável mundo novo: cheio de perigos, ameaças e desencantos mas que, ao mesmo tempo, me permite ouvir gente inteligente a analisar uma obra literária, lê-la, e ainda ouvir a música que lhe dá o nome. 

Tudo sem precisar de sair de casa nem de abrir a carteira.

08
Fev23

Sobrevivente

Maria J. Lourinho

 

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Depois de tantas perseguições, fatwa e esfaqueamento, a vida compensou-o no plano estético. Perdidos 18 quilos, nunca Salman Rushdie foi tão charmoso.

Não é um dos meus escritores favorito, mas é um ser humano cuja coragem foi posta à prova, mais do que uma vez, em circunstâncias duríssimas, apenas por não desistir dos direitos de pensar e de ser livre.

E os deuses todos sabem como a vida hoje está perigosa para quem insiste em pensar e ser livre.

Tenho por ele grande respeito.

 

 

07
Fev23

Elas

Maria J. Lourinho

Calhou olhar pela janela e vê-las.

Duas mulheres ainda novas estão paradas a conversar; carregam casacos, malas e lancheiras. Por várias vezes, a linguagem corporal indica que se vão separar, mas não, ainda há coisas para dizer.

Por fim, envolvem-se num longo e genuíno abraço.

Sei, exactamente, o que estão a dizer:

Gostei tanto de te encontrar! Também eu! Havemos de marcar um cafezinho para pôr a escrita em dia com mais tempo. Isso! que boa ideia!  Liga-me! Vou ligar, sim!

 

Não o farão. Não têm tempo.

 

06
Fev23

A Vida Brinca Comigo, David Grossman

Maria J. Lourinho

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David Grossman é actualmente um dos meus autores favoritos.

Israelita, pacifista, defensor dos dois Estados, profundamente humano, brilhante escritor.

Aqui nos conta, no essencial, uma historia verdadeira, embora tivesse tido autorização para fantasiar. É a história de Vera, (na vida real Eva),judia croata, que passa 3 anos num campo de “reedução” de Tito, na Jugoslávia, acusada de ser estalinista.

Estes 3 anos, e as suas consequências nas vidas das personagens, são narrados sem dó nem piedade, e Grossman leva-nos pela mão ao encontro do mais puro e inexplicável amor, aquele que exclui tudo o resto, e da mais refinada malvadez, a que exclui qualquer resquício de humanidade.

Vera e a sua filha Nina são personagens inesquecíveis. Pelos seus corpos e mentes passou o pior do mundo, passaram também os anos, mas elas, no fundo, nunca desistiram da redenção.

 

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