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Última Paragem

O blog do bicho do mato

O blog do bicho do mato

Última Paragem

31
Jul22

Quotidiano

Maria J. Lourinho

O meu café do costume fecha ao domingo. Assim, arranjei um outro, do costume do domingo, recentemente remodelado, limpo, apetitoso e em que só encontro brasileiro(as) a trabalhar, o que não é novidade nenhuma; são, regra geral, simpáticas e bem humoradas.

Quando hoje saí de casa, aí pelas 9 da manhã, o telemóvel marcava 26º. A porta do café estava apenas meio aberta, o que achei normal, dado o calor e o sol a bater nela, mas quando entrei, o ar estava ainda mais quente do que na rua.

Estranhei, olhei à volta, e vi um ar condicionado no tecto.

Perguntei: não ligam o ar condicionado?

Uma funcionária respondeu, mais para dentro que para fora, que hoje ainda não tinham ligado.

Porém, dirigiu-se para o comando de parede do aparelho, olhou e dialogou com a colega: 30º!!- liga-o e tira uma fotografia – não, isso não tiro - devias tirar.

E assim ficaram, mas o aparelho foi ligado.

Logo de seguida, diria eu que como complemento, a segunda empregada dirigiu-se à porta meio aberta e abriu-a de par em par com o ar satisfeito de quem pensa: assim, sim, isto agora vai refrescar.

O sol entrou pela casa em poderosos jorros, eu bebi o café tão rápido quanto pude e fui-me embora.

Confesso que ainda tive a tentação da pedagogia, mas logo me lembrei que para emigrante brasileiro, frequentemente, ensinamento é sentido como desrespeito para com ele, e desisti.

Assim vai o nosso quotidiano: uns não sabem, outros desistiram de ensinar.

29
Jul22

Olena

Maria J. Lourinho

mw-860.jpg

As opiniões dividem-se, é claro. Também tenho a minha, como mulher de esquerda engajada desde cedo na defesa da democracia.

Percebo que, humanamente, é difícil a uma mulher jovem e bonita, resistir ao apelo da vaidade e dizer não ao glamour de ser capa da Vogue, fotografada pela grande Annie Leibovitz.

Nestes nossos tempo, em que o poder da imagem é avassalador, quem consegue recusá-lo? Será preciso ser aquilo que Olena Zelenska não é – alguém muito politizado, e dona de uma cabeça que sabe "separar as águas" .

Eu compreendo-a, sim, mas ela que não me venha dizer que ser capa duma revista de ricos nova-iorquinos é bom para a Ucrânia, ou para o sofrido povo ucraniano, ou para as mulheres ucranianas abusadas, ou para as crianças ucranianas estropiadas.

Não! É apenas bom para o ego de Olena. 

Durante a grande crise da dívida grega, o casal Varoufakis caiu na mesma tentação das fotos glamourosas. Quem se lembra deles hoje, passados sete ou oito anos? Não passam de estrelas de brilho intenso mas fugaz.

Olena está bonita, sem dúvida, mas, acredito que,  ao contrário de, por exemplo, Eleanor Roosevelt ou Danielle Mitterrand, a História não a guardará. Creio-a filha de um deus menor.

28
Jul22

Dia de ser demónio

Maria J. Lourinho

De há dois ou três meses para cá, quase todos os dias me cruzo, na minha caminhada matinal pelo jardim, com um senhor já de alguma idade mas ainda ligeiro.

Quando o vejo, aí a uns trinta metros, percebo que tem uma máscara pendurada duma orelha. Mal ele me topa, à mesma distância, pendura a máscara também na outra orelha para estar devidamente protegido de mim, que nunca passo a menos de uns cinco ou seis metros dele. Suponho que faz o mesmo com toda a gente e não será embirração comigo.

Com os meus botões penso sempre o que lhe adiantará tanta manobra de põe e tira ali no jardim, a céu aberto e com pouca frequência àquela hora da manhã.

Isto é o que penso em dias normais mas, nos meus dias de ser anjo, sinto até simpatia para com o avisado cidadão (que por acaso não gosta de dar bons dias) que tanto se esforça a exercitar as pernas como a ginasticar os braços, para o que usa o constante afã com a máscara meia dose ou dose inteira.

Mas eu também tenho os dias de ser diabo e hoje era um desses. Quando o vi lá longe a pendurar o trapo na orelha fui, sorrateiramente enviesando a marcha para acabar por me cruzar com ele, mesmo, mesmo ombro a ombro.

Por uma vez o senhor deve ter pensado – ainda bem que me protegi desta maluca.

E eu pensei: de vez em quando sabe bem fazer uma patifaria(zinha). Faz bem à pele, liberta os poros e, como acabei rindo, ainda alarguei a caixa torácica.

27
Jul22

Raça

Maria J. Lourinho

“Com dois pés, trabalhando, falando e, por vezes, pensando, existe apenas uma raça no planeta: o Homo Sapiens Sapiens.”

Foi o este o texto de um post no Facebook publicado peelo rabi Robert Frolich em respostas a mais um discurso racista de Orbán (Hungria) em que disse, entre outras barbaridades : 
“As pessoas que vivem na Europa deslocam-se, trabalham, mas não são povos misturados. Estamos disponíveis para nos misturarmos uns com os outros, mas não nos queremos tornar numa raça mista”, disse Orbán.

Uma sua colaboradora de há mais de 20 anos demitiu-se dizendo:

“Não percebo como é que não reparou que o discurso proferido é uma diatribe puramente nazi digna de Joseph Goebbels”.

In Público, 27/07/2022

Assim vai a Europa

26
Jul22

Saudades (também) disto

Maria J. Lourinho

 

 

Muitos portugueses urbanos, mal sentem uma chuvinha ficam logo mal dispostos.

Eu sou urbana, mas então as saudades que eu sinto disto?!

(Peço desculpa a quem já tinha comentado o post anterior, mas houve dificuldades com o vídeo)

22
Jul22

Smoke

Maria J. Lourinho

Era uma avó baixinha, redonda, cabelos brancos bem cuidados.

Com desvelo e rigor, escolheu uma ampla sombra do jardim e arrumou nela o carrinho do bebé, que dormia.

Desviou-se uns bons cinco metros e, com idêntico desvelo e enorme prazer, sem nunca tirar os olhos do bebé, fumou um cigarro.

Tive vontade de a abraçar. Acho que eram só saudades de mim.

19
Jul22

Momentos

Maria J. Lourinho

Saíram todos.

O silêncio é tão profundo quanto doce e apaziguador.

Não há gritos infantis, carros e motas como que desistiram da estrada lá ao longe, e até as rolas calaram o seu monótono gemido.

Uma brisa quase furtiva arreda um pouco os muitos graus centígrados; fico-lhe reconhecida pelo delicado afago nos meus pés e pernas nuas

Dentro e fora tudo parou. Por breves, raros, e preciosos momentos, acredito que vivo o fim e o princípio do tempo.

06
Jul22

O grande apalpador

Maria J. Lourinho

No reino de Sua Majestade, a rainha Isabel II, o governo do desvairado Boris vai caindo aos bocadinhos.

Os governantes vão-se demitindo mas são rapidamente substituídos, porque o que não falta pelo mundo todo, neste nosso século XXI, é gente que nunca ouviu falar de valores, a não ser que a palavra apareça junto de outra palavra, a saber, bolsa.

A última demissão, não por vontade do próprio, mas porque tinha de ser, foi a do líder parlamentar do partido conservador, Chris Pincher. Escreve o Expresso Online:

A lista de alegações foi crescendo e o deputado está sob investigação: em 2012, avanços indevidos dirigidos a um jovem em Londres; em 2013, ameaça a uma funcionária que aconselhou Pincher a deixar em paz um jovem na conferência do Partido Conservador e apalpões a outro rapaz; em 2017 e 2018, avanços a deputados do partido e a um trabalhador de uma organização humanitária; em 2019, tentativa de despir um ativista conservador e promessa a um militante que ajudaria a promovê-lo se o visitasse no seu quarto de hotel; em 2021, apalpões a outro voluntário do partido e a um deputado.

Duas notas: Pincher é um dos casos em que o nome assenta que nem uma luva (pincher=beliscador), mas também é tesoureiro real e membro do conselho consultivo da rainha, o que lhe confere o título vitalício “Right Honourable”.

Podemos, pois, concluir, que foi demitido um honourable cavalheiro que até aos seus 52 anos fez uma brilhante carreira de serviço público aos "avanços e apalpões".

God save the queen.

03
Jul22

Romagem extravagante

Maria J. Lourinho

Voltei aqui hoje, ao fim de nove meses de ausência. Por que voltei? Romagem de saudade? Talvez, mas certo é que nunca fui dada a essas coisas; geralmente  evito os factos do passado, mas não o passado, e não tendo a voltar aos lugares onde fui feliz.

O porquê ficará uma incógnita, que também não é importante, mas reli algumas coisas e gostei. Não pela qualidade literária (não tenho peneiras dessas) mas porque me achei aqui de corpo inteiro.

Esta expressão "de corpo inteiro" pode ter múltiplas interpretações, mas para mim quer dizer que aqui mostrei tudo o que não me importo de mostrar aos outros, e apenas isso. Há no meu estar uma grande parte de reserva pessoal, que não quero, nem acho útil, desnudar. Gosto da privacidade.

Assim, se pensei em fechar este blogue, passei a achar que o vou manter.

Com o passar dos anos, vamos tendo menos coisas que queremos dizer, mas voltarei. Virei aqui quando me apetecer, dizer uma coisa ou outra para uma, duas ou nenhuma pessoas, que essas contagens também já não faço.

Virei, apenas porque sim. E não é esse um bom motivo?

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