Uma historieta para a Sofia
A Sofia comentou ontem aqui que adorava os patinhos da Gulbenkian. Hoje, dedico-lhe esta brincadeira que escrevi em 2017 e publiquei no Facebook.
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Não se distingue de qualquer outra das patas que habitam o jardim mais bonito da cidade. Porém, aquela parece ter tido a maior ninhada – dez ou onze patinhos, que fazem as delícias de quem por ali passa.
Claro que todos “sabem bem nada” e ontem, depois do matinal banho, a mãe pata tomou ares de sargento e caminhou com a pataria toda atrás, para destino ocultado dos passantes mas fácil de adivinhar; lembremo-nos da canção infantil: “quando estão cansados da água vão sair, depois em grandes filas pró ninho querem iiiiiiiir”.
Éramos três maduras a olhar a natureza, com aquele ar embevecido/apalermado de quem já deu para aquele peditório, tendo-nos ficado, para a vida, uma duradoura e arreigada capacidade de ternura e também de meter o bedelho onde não somos chamadas.
No meio da marcha, eis que um dos juniores tropeça, cai, e fica de barriga para o ar, debatendo-se para se virar. Sem sucesso.
A pata, que já nos tinha desaparecido da vista, deve ter chegado lá à frente, contou-os, e deu pela falta de um. Voltou atrás e começou as manobras para virar a cria, porém, com pouco jeito e nenhum sucesso. Farta, que isto de tomar conta de tantos filhos desespera qualquer uma, virou as costas e foi embora, certamente para chamar o 112.
É então que uma das maduras não resiste e vai virar o patinho.
Vinda não se sabe donde, a uma velocidade de Falcon 50, aparece a mãe pata, grasnando como uma louca, direitinha às nossas cabeças.
Era ver, então, no jardim mais bonito da cidade, as três maduras, quase histéricas, em fuga desordenada duma pata ensandecida e cega de ódio.
É tão linda a natureza, não é?!
15 Abril 2017