Maria J. Lourinho
Quem me conhece sabe que não encontro nada de interessante no envelhecimento e que os discursos laudatórios sobre ele me produzem um irritação profunda.
Um corpo que começa a falhar e que se torna um desconhecido, não só não tem graça como é assustador. Pior ainda é o envelhecimento da mente, quantas vezes tendo sido brilhante durante décadas para, sem aviso prévio, começar a parecer uma estrela que vai morrer e deixar um buraco negro.
Vem isto a propósito da capa da revista Visão, que reproduzo, em que Miguel Sousa Tavares anuncia que vai abandonar o jornalismo. (Não li o artigo, não costumo ler a revista)
É uma boa decisão que só peca por tardia; quer-me parecer que leva, pelo menos, uns cinco anos de atraso, altura em que deixei de o ler e de o ouvir.
E se eu gostava dos seus textos no Público, julgo que à sexta-feira, tão bem escritos e reflectidos, sempre a acertar no alvo, assertivos mas não ofensivos.
Há uns anos, parou no tempo; tudo é mau hoje em dia, odeia, sem tentar entender, as redes sociais (que é o mesmo que odiar qualquer inevitabilidade, porque elas vieram para ficar), odeia professores, acredita que o ensino elitista que recebeu é que era bom, que os jovens são uns ignorantes, ama as touradas e, por ele, ainda hoje todos fumaríamos no espaço público Alienado do país, ainda há pouco falou em jovens com um primeiro ordenado de 2700 euros. E são só exemplos.
Se não tivesse nascido numa família “do contra” talvez fosse hoje um refinado reaccionário.
Vai-se passando algo de semelhante com Clara Ferreira Alves, tudóloga do Eixo do Mal, onde frequentemente aparece mal preparada, mas sempre snob e catastrofista – o mundo está mesmo, mesmo, a acabar e vocês não vêem nada, ó seus grandes estúpidos.
Que o Miguel pendure as botas, é mostra de uma réstia de lucidez. A Clarinha devia fazer o mesmo.
Com o definhamento intelectual destes dois é também um pouco de mim que definha, mas prefiro isso ao incómodo de assistir, semanalmente, à sua decadência, ao vivo e a cores.