O que Resta da Nossa Vida, Zeruya Shalev
O começo não foi fácil. O livro todo também não é fácil.
A narrativa começa quando o elemento mais velho de entre os personagens, a mãe, cai e fica confinada à cama. É então que entramos na família com a história pessoal desta mãe e dos seus dois filhos - uma mulher, mais velha, sempre insuficientemente amada pela mãe, e um homem, mais novo, por ela adorado.
O centro de todo o romance é a procura do amor, por parte de quem o recebeu cheio de entorses, ou não o recebeu de todo. A aprendizagem dos afectos não foi feita em casa, e muito menos no kibutz; será, por isso, feita a custo por cada um individualmente e, por fim, colectivamente.
Nesta busca, os personagens estão tão ávidos de receber como de dar, mas o seu caminho é duro, errático, com laivos de loucura na procura dessa coisa simples mas essencial, que parece fácil mas que não o é de todo – amar e ser amado.
Na construção do romance, as vozes e os tempos cruzam-se. Ao leitor é pedida grande concentração embora, depois de lhe apanharmos o "jeito", nos entreguemos com prazer à narrativa daquelas vidas que na sua aflição e humanidade tanto nos agarram como nos sacodem.
Zeruya Shalev é uma escritora israelita, autora de cinco romances, traduzida em 25 línguas, com inúmeras distinções e prémios.