27
Mar21
Da memória
Maria J. Lourinho
O meu quintal tinha pretensões a jardim.
Tinha relva, que não era grama mas escalracho, um canteiro comprido que no inverno dava jarros e no verão sardinheiras, uma sebe feita com escalónia, uma laranjeira e um limoeiro; a grande primenteira do vizinho, que no verão derramava na relva uma sombra generosa e benfazeja, também era, de facto, minha.
Nas noites de canícula e silêncio, depois de os pássaros se acomodarem para dormir, podia ouvir os insectos e ver um monte de estrelas de que nunca soube o nome.