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Última Paragem

O blog do bicho do mato

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Última Paragem

07
Mar21

Leituras V

Maria J. Lourinho
  •  "Exposição de Matisse no Pompidou. Online. Até 15 de Março é necessário chegarmos à nossa própria cadeira. O mundo mudou.
  •  Uma história contada por Pascal Quignard sobre o grande pintor Matisse.
    Matisse nunca interrompia o seu trabalho. Diante do quadro ficava por ali, obcecado. Não recebia ninguém.
    Impossível ser interrompido. Não estou, não posso, não quero. Um quadro era um animal a ser criado e depois acompanhado até ao seu último instante, até ao seu término. Criar, cuidar, fechar; depois virar as costas. Eis o artista e a sua obra. Obsessão.
    Um dia, conta Quignard, em Novembro de 1944, quando Matisse no seu atelier trabalhava numa tela, atacando-a com um amarelo fortíssimo, um sobressalto qualquer surgiu à porta. Foi “o dia em que a sua filha Marguerite regressou da sua deportação”.
    A sua filha Marguerite estava fraca, magra, “quase irreconhecível”. A porta do atelier aberta e Matisse uns segundos a tentar perceber quem era. Era a sua filha, regressara, fraca mas viva. Matisse “correu para ela e abraçou-a”.
    A tela que Matisse estava a pintar ficou atrás dele.
    “É a única pintura de Matisse que permaneceu incompleta”, escreve Quignard, “nunca mais Matisse conseguiu meter-se no interior dessa tela para a continuar”.
  •  As pequenas interrupções do mundo miudinho e a grande interrupção: a filha voltou.
  •  Matisse e as guerras, a política e as grandes cores numa tela.
    Os seus dois filhos, Jean e Pierre, foram alistados na 1ª Guerra. A casa dos pais de Matisse foi destruída por um bombardeamento. As várias gerações atingidas; não há sítio escondido quando os corajosos e o perigo estão em movimento e choque.
    Foi operado ao intestino, em 1941, e teve de ficar no quarto, a recuperar, sempre deitado — durante quase um ano. Desenhava com “um carvão preso à ponta de uma vara de bambu”.
    Há imagens invulgares de Matisse deitado a desenhar na parede com este lápis longo.
    Não perder a mão, o mais antigo conselho dado a desenhadores, pintores, escritores, etc.
    Foi poucos anos mais tarde, então, que a Gestapo prendeu a sua filha, desconfiavam que pertencia à resistência francesa. Terá sido torturada."

Excerto da crónica semanal de Gonçalo M. Tavares na revista do Expresso de 5/3/2021

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